terça-feira, 20 de maio de 2025

Resenha: Sete anos entre nós / Ashley Poston

    Imagina chegar em casa e se deparar com um estranho, que também mora lá, só que 7 anos antes de você, o que você faria? Isso mesmo, você viajou para o passado. E agora? O que você faria? E se, você se apaixonasse pelo estranho?

Esse não é apenas mais um livro de romance. É um livro sobre a vida e como se apaixonar faz parte dela, como se apaixonar é necessário pra que a gente queira viver, se apaixonar por uma pessoa, por um lugar, por um apartamento, por uma refeição, pela vida. E como é fácil a gente perder esse encanto na correria que o dia a dia nos impõe. Como é fácil a gente se perder de nós mesmos e só ir sobrevivendo sem de fato viver.

“Mire na Lua”

Esse era o principal conselho da tia da Clementine. Sempre mirar naquilo que parece impossível, mire nos sonhos, viva e lute até conquistá-los, não se importe com o que os outros pensem ou nas consequências. Mude de ideia, dance na chuva, ela era esse tipo de pessoa. Sua tia sempre foi sua melhor amiga, parceira de aventuras e viagens, graças a ela que Clem tinha um passaporte de dar inveja.

“Minha tia sempre dizia: se você não se encaixa num ambiente, engane todo mundo até se encaixar.”

Quando Clem ainda era uma criança, sua tia lhe contou que o apartamento onde morava era mágico, que fazia viagens no tempo, Clem ficou cética, mas a tia afirmou que era verdade e que naquele apartamento haviam apenas duas regras: 1- sempre tirar os sapatos na porta e 2- nunca se apaixonar. Por mais que a jovem Clem tentasse e pedisse, o apartamento nunca a fizera viajar no tempo.

Muitos anos depois, ao descobrir que a tia faleceu e deixou o apartamento para ela, Clem perde o chão. Ela estava vivendo meio que no automático, tinha um bom emprego, no qual era reconhecida, suas duas melhores amigas eram também suas colegas de trabalho, quanto a vida amorosa, ela terminou com o último namorado, depois que ele ficava exigindo prioridade. Estava tudo bem ao mesmo tempo que não estava, faltava alguma coisa.

Iwan, o estranho 

Desculpa Clem, mas eu também me apaixonei por ele. Um sonhador que queria honrar o avô em busca da refeição perfeita.  Depois de percorrer diferentes caminhos, aos vinte e poucos anos, ele decidiu ir atrás do seu sonho de ser um grande chef, entrou para faculdade e buscava um emprego num restaurante. 

Um dia, Clem é acordada por um estranho, no apartamento está tudo igual, mas diferente. Não tinha ali seus móveis, era como se fosse o apartamento antigo da tia, com o sofá que ela tanto usava. Em um primeiro momento, Clem não entende o que está acontecendo e exige que ele vá embora, mas quando cai a ficha de que finalmente ela estava vivendo a tal magia do apartamento, ela não conseguiu evitar, e deixou que o estranho ficasse lá. Iwan. Esse é o nome dele, que tem um sorriso torto, um olhar penetrante e apelidado a Clem de ‘Limãozinho’, por uma cara meio azeda que ela fazia quando ficava repleta de pensamentos. 

A conexão dos dois é incrível, eles conversam, se entendem, parece um match perfeito, os dias passam, Clem chega em casa e tudo está igual, mas diferente, seus móveis voltaram, mas Iwan sumiu.

“Isso era amor, não era? Não era só uma quedinha, era se apaixonar várias vezes pela sua pessoa. Era se apaixonar quando ela se tornava uma pessoa nova. Era aprender a existir a cada novo fôlego. Era algo incerto e inegavelmente difícil, que não dava para se planejar. O amor era um convite para o desconhecido selvagem, um passo de cada vez, juntos.”

Ela está 7 anos na frente, será que ele do futuro vai se lembrar dela? Será que ele ainda é o mesmo que ela conheceu? Em 7 anos muita coisa pode mudar pro bem ou mal. Por que ele não a procurou no futuro ou no passado? Será que eles irão se ver novamente? O apartamento tem vontade própria e só ativa a magia quando quer, ou melhor quando ela é necessária. Durante a leitura ficamos nos perguntando quando vai acontecer novamente, quando eles vão se reencontrar, o que ela vai falar, o que ele vai pensar.

O luto

O fato de o livro também ser sobre como lidamos com o luto me tocou muito, de forma muito sútil, mas muito forte, a autora nos mostra como é difícil lidar com a perda de uma pessoa amada, não tem um manual. A morte acontece e a vida continua, é muito estranho ver que uma pessoa amada se foi e o dia continua, você precisa almoçar, você precisa atravessar uma rua, tudo permanece, ao mesmo tempo que tudo está diferente.

“A vida nem sempre é como nós planejamos. O truque é aproveitar ao máximo quando as coisas saem do nosso controle.”

Se você se encontrasse com você mesmo de 7 anos atrás, o que diria? O seu ‘eu’ do passado estaria orgulhoso do que você conquistou no presente? Todo dia somos pessoas diferentes, cada escolha, cada rua que atravessamos é um caminho diferente pro nosso destino. "E se" a gente tivesse feito isso ou aquilo, o hoje seria diferente, o fato é que tanto o passado quanto o futuro estão além do nosso controle, o que sabemos é o hoje. E a cada dia, somos diferentes e temos a oportunidade de fazer novas escolhas, isso é de fato um presente.

Esse livro me fez refletir tanto, me fez sorrir, me fez chorar, deixou meu coração quentinho, fez com que eu quisesse me apaixonar, nunca mais verei: tortas de limão, pombos e guias de viagem da mesma forma. Sou uma pessoa diferente depois de ler esse livro, entrou para o rol dos meus livros favoritos.

“Às vezes, as pessoas que você amava abandonavam você no meio de uma história. Às vezes, abandonavam você sem se despedir. E às vezes continuavam presentes nas pequenas coisas. Na lembrança de um musical. No cheiro do perfume delas. No som da chuva, na vontade de viver uma aventura.” 

Nenhum comentário:

Postar um comentário