segunda-feira, 4 de dezembro de 2023

Resenha: A biblioteca dos sonhos secretos / Michiko Aoyama

Qual é o seu sonho secreto?

Você vive no automático ou em busca de realizar seus sonhos? Você sabe de fato qual é mesmo o seu sonho?

A biblioteca dos sonhos secretos tem cinco histórias independentes que nos inspiram a buscar nossos sonhos. É através de livros que os personagens irão entender qual caminho devem seguir, mas a resposta já estava com eles, eles só precisavam enxergar.

Livros têm esse poder de nos ajudar a sermos pessoas melhores, e melhores pra nós mesmos até, porque muitas vezes nós somos a própria pedra no nosso caminho. E, por exemplo, já pensamos, que algo vai dar errado antes mesmo de tentar e qual o problema se der errado, né? O pior é nem tentar.

Michiko Aoyama nos mostra nessas histórias que livros podem ser mágicos.

Apesar de serem histórias independentes, elas vão se esbarrando aqui e ali, seja pela biblioteca e bibliotecária sempre presente ou por citações de personagens que já conhecemos antes, eles estão todos vivendo perto e as suas vidas as vezes têm pontos de conexão, mesmo que estejam vivendo os momentos mais diversos da vida.

O que todos esses personagem têm em comum é a pergunta: o que você procura? O que faz refletir sobre suas vidas e vai ser através dos mais diferentes livros que eles irão encontrar respostas. Pensei em citar quais os livros que cada personagem lê, mas achei melhor deixar essa surpresa para a leitura, é legal descobrir o livro bem aleatório que faz o personagem ter um estalo. 

Tomoka: A vendedora e o pão de ló

Uma jovem que acabou de ser formar na faculdade e está trabalhando numa loja de roupas. Ela está desesperançosa, se acha inútil e acha que o trabalho dela não é nada válido. Vai ser uma ida a biblioteca e o livro infantil Guri e Gura que irá mudar sua vida. E a inspirar a olhar tudo por outros pontos de vistas e ser menos crítica a si mesma.

Muito interessante e impossível não se identificar com ela.

“Digitei ‘tudo’ e a primeira opção do preenchimento automático foi ‘bem’. Acabei enviando desse jeito. Na realidade eu pretendia responder ‘tudo um saco.’”

Ryo: O contador e o antiquário

Ele trabalha no automático e com sonho de ter seu próprio negócio. Um antiquário. Ele pensa que nunca vai ter tempo, muito menos dinheiro pra realizar esse sonho.

Sobre confiança e acreditar em si mesmo e nos outros também. Um sonho quando compartilhado pode ser ainda mais realizador. Além do ‘idade não é documento’.

Ele vai sofrer até perceber que a vida tem pontos de vista diferentes.

“Já do ponto de vista das plantas, a parte de cima e a de baixo são igualmente importantes e estão em equilíbrio. Os seres humanos só enxergam o que lhes convêm e acham que isso é tudo. Já as plantas... os dois lados são importantes.”

Natsumi: A ex-editora

Ela sonhava em ter um filho, mas quando sua pequena filha chegou, a sua vida virou de cabeça para baixo. Perdeu o cargo de prestígio com o qual tanto sonhou e lutou para conseguir e ficou se sentindo perdida em todos os aspectos da vida, tudo parecia fora do lugar. Ao mesmo tempo que ele amava a filha, ela sente que ‘perdeu’ sua vida.

Muitos dilemas sobre a maternidade, o dia a dia nada fácil. Como diferenciar a identidade profissional x identidade 'mãe'. Papel da mãe, quem busca na escola é sempre a mãe. O pai continua seguindo a carreira, isso não é justo.

Importância da mudança de perspectiva. Se os fatores são diferentes, como você pode ficar esperando o resultado anterior? Isso só gera frustração.

“– Fico feliz por ter servido de ponte não apenas para você ler o livro, mas para querer ter um exemplar dele com você.

- Sim, graças a ele senti vontade de me transformar.

Ela sorriu.

- Acontece com todos os livros. Mais valioso do que o poder que existe neles, é o jeito como você os lê.”

Hiroya: O desempregado

Você terminou os estudos e agora o certo é ir trabalhar, mas e se não conseguir se encaixar em nenhum trabalho? Ou pior, se nenhum empregador te escolher?

Ele tem uma paixão, mas não conseguia enxergar que o que ele amava também poderia ser sua fonte de renda, ou pelo menos uma fonte de vida. Depois de passar muito tempo ocioso em casa e sem ter nenhuma vontade de sair, ele visita a biblioteca comunitária. E essa visita muda a sua vida.

“A estabilidade absoluta não existe em nenhum emprego. Todo mundo apenas tenta dar o seu melhor para seguir em frente [...]. Não há certeza de nada na vida. Maas o lado bom disso é que, se não há segurança de que as coisas vão dar certo, também não há garantias de que vão dar errado.”

Masao: O aposentado

O que você faz quando não precisa mais fazer nada? A vida toda você trabalhou na mesma empresa e agora a recompensa chegou: sua aposentadoria. E finalmente você poderá viver, mas o que é viver? Como faz pra viver e a única vida que você já conheceu envolvia o trabalho?

A importância de olhar para os lados, ao invés de olhar só para a frente, e de valorizar todas as experiências.

“ – Um trabalhador como eu se sente excluído da sociedade ao se aposentar. Quando trabalhava, eu ansiava por mais tempo para mim, mas na realidade, agora que tenho esse tempo, não sei o que fazer com ele. Não vejo sentido no resto da minha vida.

- O que é esse ‘resto’? – indagou ela, sem mover as sobrancelhas um milímetro sequer.

Eu me pergunto o mesmo.

- O excesso, talvez. O que sobre? – respondei num tom autodepreciativo, e Komachi inclinou a cabeça para o lado oposto com outro estalido.

- Por exemplo, digamos que eu comi dez cookies de uma caixa contendo doze – disse ela.

- Como?

- Nesse caso, os dois que estão na caixa são ‘o excesso’? São ‘o resto’?”

Todos esses personagens me fizeram refletir bastante, esse é um daqueles livros que as vezes a gente precisa reler para se inspirar novamente. O mais interessante é pensar que seja aqui no Brasil ao lá do outro lado do mundo, pessoas passam pelos mesmos dilemas ao longo da vida.

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