Uma aventura deliciosa, personagens cativantes, divertidos e surpreendentes. Muitos mistérios, magia e descobertas, “O que o Rio sabe” tem tudo. Foi um dos livros que li mais rápido no ano e terminei o livro com vontade de quero mais.
Inez Oliveira nunca foi uma mocinha fácil, ela tinha suas próprias opiniões e sempre fazia as coisas do jeito que ela achava melhor, não necessariamente o jeito mais recatado ou aceito socialmente, mas ela não se importava nem um pouco, tem um espírito livre e quando tomava uma decisão, ninguém era capaz de fazê-la mudar de ideia. Ela foi criada basicamente por sua tia, ao lado de duas primas, uma que era sua melhor amiga e a seguia para todo canto e outra que só sabia criticá-la.
"Viajei para cá inteiramente sozinha - falei. - Menti sem qualquer pudor para todo mundo que encontrei, desobedeci a meu tio a cada passo. O que faz pensar que sou sensata?"
Os pais da Inez eram exploradores e passavam a maior parte da vida no Egito, deixando a filha para trás na Argentina. Eles nunca permitiram que ela os acompanhasse nas viagens. A cada ano, passavam uma temporada com a filha e depois retornavam ao Egito. Inez sempre se sentiu sozinha e não entendia o que poderia ter lá que era melhor do que estar com ela. Os dias que ela passava com os pais eram mágicos e literalmente mágicos, já que o pai trazia objetos que foram tocados pela magia antiga então tinham utilidades inusitadas, como por exemplo: um lenço que encolhe todo objeto que ele conseguisse cobrir por inteiro. O seu pai tinha lhe enviado um anel, que fazia com que Inez tivesse algumas visões e sentisse o gosto de rosas, ela queria entender o motivo dele ter lhe enviado esse artefato.
A vida da Inez vira de cabeça para baixo quando recebe uma carta de seu tio, que explorava o Egito ao lado de seus pais, lhe informando que eles haviam morrido. Simplesmente isso, que numa exploração se perderam e morreram no deserto. Inez fica sem chão e com milhares de perguntas, ela não vê outra forma senão embarcar para o Egito. E ela vai. Escondido e sem acompanhante. Corajosa demais.
Ao chegar lá, ela não é bem recebida, muito pelo contrário, seu tio além de não ter ido recebê-la, pediu para que o seu funcionário já a despachasse de volta para a Argentina imediatamente. Funcionário esse que é o sedutor, misterioso, belíssimo e irritante Whitford. É óbvio que a Inez não vai simplesmente aceitar retornar para casa, né? Esse primeiro encontro dos dois é muito divertido, depois quando vamos lendo mais, vamos entendendo os motivos de cada um e conforme eles vão se conhecendo e aceitando que ambos sentem uma atração um pelo outro, mesmo que neguem, toda vez que estão juntos temos momentos de tesão, ops tensão.
"Não conseguia deixar de me perguntar se ele estava tão confuso quanto eu. Atraído e lutando contra o sentimento. Encantado, mas tentando não estar. Será que estava tão incomodado quanto eu?"
Mesmo conseguindo permanecer no Egito, apenas porque é muito decidida e destemida, ninguém conta nada a ela, o que aconteceu com seus pais, o que seu tio está procurando. E somado isso, ela só consegue mais perguntas: ela acha uma carta no antigo quarto de hotel dos pais, na qual sua mãe afirma que o tio é criminoso, será mesmo? O Whit esconde algum segredo, ela consegue perceber que ele usa uma máscara em diversos momentos, mas tudo isso fica em segundo plano quando Inez se encanta pelas maravilhas das descobertas.
O fato é que: nenhum personagem é totalmente confiável. Ao longo do livro vamos descobrindo que confiamos na pessoa errada, que um segredo muda tudo e mesmo quando achamos que agora já sabemos tudo, a última página me deixou chocada e com muita vontade de ler a continuação (“A biblioteca se esconde”, será lançado ano que vem).
Além de nos alertar a não confiar muito rápido ou cegamente nas pessoas, o livro também nos mostra que não dá para só fazer o que queremos sem pensar nas consequências das nossas atitudes para quem amamos.
As descrições são brilhantes, Inez é uma artista e ela vai capturando através dos seus desenhos, os lugares que precisa retratar e em diversos momentos me senti lá com eles numa sala escura, tentando decifrar um enigma para abrir uma passagem secreta e descobrir uma sala repleta de tesouros. A escritora teve um cuidado também de alertar para o fato de que os tesouros lá encontrados são sim tesouros, mas não no sentido de bem para enriquecimento pessoal e sim para a Humanidade.
Por fim, preciso destacar ainda que é um livro muito divertido, eu me conectei muito rápido com os personagens e ri a bessa deles e com eles em alguns momentos, e por eu ter me conectado também fiquei aflita com todos os trocentos momentos em que a vida deles estava em risco, spoiler alert: ninguém está a salvo!
"Rochas empilhadas emolduravam a passagem de ambos os lados, antigas, formidáveis e sólidas, erguendo-se contra um pano de fundo de colinas roxas. Cercando a ilha havia outras menores, guardiãs rochosas e formidáveis da joia do Nilo. Os pilares do templo ficavam mais altos à medida que fazíamos nossa lenta aproximação. Eu nunca tinha visto nada tão bonito em toda a minha vida."

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