terça-feira, 25 de julho de 2017

Resenha da semana: Mestre das Chamas/ Joe Hill

Em um futuro distópico no qual o mundo todo arde em chamas, a humanidade sofre risco de extinção e Joe Hill mostra que o ser-humano pode ser mais perigoso que um fungo letal.

“Para muita gente, a ideia de ser afastado de quem se ama assusta mais do que a doença. Ninguém quer morrer sozinho.”

Uma doença que se propaga, é assim que nossa história começa. Não se sabe de onde surgiu, não se sabe como curá-la a única certeza é que muitas pessoas estão morrendo de uma espécie de combustão voluntária, sim, as pessoas viram, literalmente, chamas. E rapidamente, a busca por respostas se torna irrelevante, já que a doença foi rapidamente disseminada.

‘Escama de Dragão’, é o nome dado a esta doença, porque o seu primeiro sintoma são listras amarelo-avermelhadas pela pele, que mostram que a pessoa está condenada a virar chamas dentro de algumas semanas.

“A escama de dragão era a bala, mas o dedo que puxava o gatilho era o medo”

Harper Grayson, uma enfermeira que ama ajudar a todos que estão ao seu redor, trabalha em uma escola primária e suas principais funções são: acalmar crianças e distribuir band-aids  e doces, ela é fã de Mary Poppins, então sempre acredita que uma colherada de açúcar pode salvar o dia. Sua vida muda rapidamente quando vê um homem explodir em chamas no jardim da escola, a partir desse momento, ela se torna uma enfermeira voluntária no hospital de quarentena para os infectados com escama de dragão, ela trabalha com um traje especial e muitos banhos com cloro para evitar a contaminação, que ninguém sabia ao certo como ocorria. Até que em um dia, todo o hospital vira chamas, ao que tudo indica, houve uma espécie de reação em cadeia, e fatos como este estavam ocorrendo no mundo todo, rapidamente coisas básicas como internet e energia elétrica se tornam um luxo para poucos.

Harper volta então para casa, para seu marido Jakob, que era um escritor frustrado e fazia um trabalho burocrático no departamento de obras do governo, não pode-se dizer que ele era um bom marido, já que sempre colocava Harper em uma posição inferior, como incapaz de realizar algo. Vocês podem imaginar o que ele fez, quando algumas semanas depois, apareceu uma listra da escama do dragão em Harper, justamente após os dois viverem altas noites calientes? Sim, ele a culpou e a abandonou, porque como ainda não havia aparecido nenhuma listra nele, talvez ele pudesse ter uma chance, já dá pra sentir o egoísmo não é mesmo? E o pior, Harper estava grávida.

Após algumas semanas de exclusão, Harper recebe uma visita de três pessoas, duas delas aparentemente crianças fantasiadas com máscaras, elas estavam acompanhadas de um homem vestido de bombeiro que soltava fumaça pela boca sem fumar nenhum cigarro, eles deram a Harper um apito, que era para ela usar caso estivesse em perigo.

E o perigo não tardou em chegar, na forma de Jakob, que teve a incrível ideia de que matar sua esposa era o melhor a ser feito. Após ser salva pelo apito e pelo misterioso bombeiro, Harper é levada para a Colônia Wyndham, um local onde várias pessoas sobrevivem com a escama de dragão, pois aprenderam a controla-la entrando para o 'brilho', uma espécie de coexistência pacífica com a doença, onde as pessoas em um estado de paz, literalmente brilham e a partir desse momento, sabem que a doença não é mais um risco eminente de virar chamas.

A partir desse ponto, percebemos que nada é tão simples quanto parece, a colônia Wyndham tem segredos e conspirações que podem levar todos ao perigo e o ‘brilho’ que em um primeiro momento parece ser o caminho para salvação, pode levar a perdição através de uma alienação típica de uma seita.

Harper se aproxima cada vez mais do misterioso bombeiro, que lhe deu o apito salvador, ambos já haviam se encontrado antes quando ela o ajudou durante um atendimento no hospital e aos poucos vamos percebendo que ambos nutrem uma atração recíproca.

Ao longo das páginas podemos perceber que o principal vilão da história não é a doença propriamente dita, é o próprio ser-humano, que ao invés de entender e praticar a alteridade cria patrulhas de cremação, que são pessoas que caçam os doentes para exterminá-los, perdendo dessa forma cada vez mais a humanidade. O livro é repleto de questões filosóficas, além de relacionamentos abusivos em questão, até onde você abre mão de sua individualidade em prol da vontade alheia?

“Os responsáveis por tomar as decisões sempre conseguem justificar atos terríveis em nome do bem maior. Um massacre aqui, uma pequena tortura ali. Torna-se moral fazer coisas que seria imorais se fossem atos de um indivíduo normal.”

Preciso destacar dois pontos positivos e dois negativos, primeiro os positivos: Joe Hill mandou muito bem na criação do motivo do ‘apocalipse’ uma doença, que não se sabe quem criou, de onde veio, é muito verossímil ao tempo presente, com a constante ameaça de armas químicas e o segundo ponto positivo é o questionamento da humanidade e como que ela pode ser frágil, quando a sua individualidade fica em risco. Os pontos negativos são: é um livro de mais de 500 páginas, tem muitas passagens que tornam a leitura cansativa, se retirasse umas 150 páginas, acho que a leitura iria render mais e o segundo ponto negativo é o final, não vou dizer spoliers, mas não foi um fim agradável após uma longa leitura, não entro no mérito de ser feliz ou triste, mas a meu ver não foi digno, após a longa jornada dos personagens.



“Às vezes eu penso que, com metade do mundo em chamas, com tanta morte, tanta dor, cantar e sentir-se bem é um tipo especial de pecado. Mas aí penso, ué, mesmo antes da Escama de Dragão a maioria das vidas humanas era injusta, brutal, cheia de perda, tristeza e confusão. A maioria das vidas humanas era e é curta demais.” 

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