Em um futuro distópico no qual o
mundo todo arde em chamas, a humanidade sofre risco de extinção e Joe Hill
mostra que o ser-humano pode ser mais perigoso que um fungo letal.
“Para muita gente, a ideia de ser
afastado de quem se ama assusta mais do que a doença. Ninguém quer morrer
sozinho.”
Uma doença que se propaga, é assim
que nossa história começa. Não se sabe de onde surgiu, não se sabe como curá-la
a única certeza é que muitas pessoas estão morrendo de uma espécie de combustão
voluntária, sim, as pessoas viram, literalmente, chamas. E rapidamente, a busca
por respostas se torna irrelevante, já que a doença foi rapidamente
disseminada.
‘Escama de Dragão’, é o nome dado a
esta doença, porque o seu primeiro sintoma são listras amarelo-avermelhadas
pela pele, que mostram que a pessoa está condenada a virar chamas dentro de
algumas semanas.
“A escama de dragão era a bala, mas
o dedo que puxava o gatilho era o medo”
Harper Grayson, uma enfermeira que
ama ajudar a todos que estão ao seu redor, trabalha em uma escola primária e
suas principais funções são: acalmar crianças e distribuir band-aids e doces, ela é fã de Mary Poppins, então
sempre acredita que uma colherada de açúcar pode salvar o dia. Sua vida muda
rapidamente quando vê um homem explodir em chamas no jardim da escola, a partir
desse momento, ela se torna uma enfermeira voluntária no hospital de quarentena
para os infectados com escama de dragão, ela trabalha com um traje especial e
muitos banhos com cloro para evitar a contaminação, que ninguém sabia ao certo
como ocorria. Até que em um dia, todo o hospital vira chamas, ao que tudo
indica, houve uma espécie de reação em cadeia, e fatos como este estavam
ocorrendo no mundo todo, rapidamente coisas básicas como internet e energia
elétrica se tornam um luxo para poucos.
Harper volta então para casa, para
seu marido Jakob, que era um escritor frustrado e fazia um trabalho burocrático
no departamento de obras do governo, não pode-se dizer que ele era um bom
marido, já que sempre colocava Harper em uma posição inferior, como incapaz de
realizar algo. Vocês podem imaginar o que ele fez, quando algumas semanas
depois, apareceu uma listra da escama do dragão em Harper, justamente após os
dois viverem altas noites calientes? Sim, ele a culpou e a abandonou, porque
como ainda não havia aparecido nenhuma listra nele, talvez ele pudesse ter uma
chance, já dá pra sentir o egoísmo não é mesmo? E o pior, Harper estava
grávida.
Após algumas semanas de exclusão, Harper
recebe uma visita de três pessoas, duas delas aparentemente crianças
fantasiadas com máscaras, elas estavam acompanhadas de um homem vestido de
bombeiro que soltava fumaça pela boca sem fumar nenhum cigarro, eles deram a
Harper um apito, que era para ela usar caso estivesse em perigo.
E o perigo não tardou em chegar, na
forma de Jakob, que teve a incrível ideia de que matar sua esposa era o melhor
a ser feito. Após ser salva pelo apito e pelo misterioso bombeiro, Harper é
levada para a Colônia Wyndham, um local onde várias pessoas sobrevivem com a
escama de dragão, pois aprenderam a controla-la entrando para o 'brilho', uma
espécie de coexistência pacífica com a doença, onde as pessoas em um estado de paz,
literalmente brilham e a partir desse momento, sabem que a doença não é mais um
risco eminente de virar chamas.
A partir desse ponto, percebemos
que nada é tão simples quanto parece, a colônia Wyndham tem segredos e
conspirações que podem levar todos ao perigo e o ‘brilho’ que em um primeiro
momento parece ser o caminho para salvação, pode levar a perdição através de
uma alienação típica de uma seita.
Harper se aproxima cada vez mais do
misterioso bombeiro, que lhe deu o apito salvador, ambos já haviam se
encontrado antes quando ela o ajudou durante um atendimento no hospital e aos
poucos vamos percebendo que ambos nutrem uma atração recíproca.
Ao longo das páginas podemos
perceber que o principal vilão da história não é a doença propriamente dita, é
o próprio ser-humano, que ao invés de entender e praticar a alteridade cria
patrulhas de cremação, que são pessoas que caçam os doentes para exterminá-los,
perdendo dessa forma cada vez mais a humanidade. O livro é repleto de questões
filosóficas, além de relacionamentos abusivos em questão, até onde você abre
mão de sua individualidade em prol da vontade alheia?
“Os responsáveis por tomar as
decisões sempre conseguem justificar atos terríveis em nome do bem maior. Um
massacre aqui, uma pequena tortura ali. Torna-se moral fazer coisas que seria
imorais se fossem atos de um indivíduo normal.”
Preciso destacar dois pontos
positivos e dois negativos, primeiro os positivos: Joe Hill mandou muito bem na
criação do motivo do ‘apocalipse’ uma doença, que não se sabe quem criou, de
onde veio, é muito verossímil ao tempo presente, com a constante ameaça de
armas químicas e o segundo ponto positivo é o questionamento da humanidade e
como que ela pode ser frágil, quando a sua individualidade fica em risco. Os
pontos negativos são: é um livro de mais de 500 páginas, tem muitas passagens
que tornam a leitura cansativa, se retirasse umas 150 páginas, acho que a
leitura iria render mais e o segundo ponto negativo é o final, não vou dizer
spoliers, mas não foi um fim agradável após uma longa leitura, não entro no
mérito de ser feliz ou triste, mas a meu ver não foi digno, após a longa
jornada dos personagens.
“Às vezes eu penso que, com metade
do mundo em chamas, com tanta morte, tanta dor, cantar e sentir-se bem é um
tipo especial de pecado. Mas aí penso, ué, mesmo antes da Escama de Dragão a
maioria das vidas humanas era injusta, brutal, cheia de perda, tristeza e
confusão. A maioria das vidas humanas era e é curta demais.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário