Visceral. Necessário. Incrível. Um
dos melhores livros do ano. Não me faltam adjetivos para esse livro. Annette
Hess nos faz sentir um turbilhão de emoções junto com os seus personagens, até
onde vai a crueldade humana? Existe justiça? Qual é o preço de saber toda a
verdade sobre o seu passado? E qual o preço de viver numa bolha?
Ambientado na Alemanha ocidental, nos
anos 1960 durante o julgamento dos envolvidos em Auschwitz, conhecemos Eva
Bruhns, uma jovem alemã, com seus vinte e poucos anos, intérprete de polonês.
Ela tem uma família amável, um bom emprego e principalmente um pretendente
rico. Tudo que ela mais ansiava era um pedido de casamento, seus problemas
rodavam em torno das perguntas: será que ele vai gostar da minha família? Será
que a família rica dele irá me aceitar? Será que ele me ama?
Seu mundo cor de rosa começa a
ganhar tons de cinza quando ela é convocada para traduzir relatos de
testemunhas no julgamento de Auschwitz, já no primeiro dia ela fica
horrorizada. Como tudo aquilo pôde acontecer? Como o ser humano é capaz de
fazer tantas atrocidades com seu semelhante? Aqueles homens sentados no banco
dos réus são verdadeiros monstros, como podem estar livres? Como podem sorrir?
Ela percebe que conforme vai se
apegando às testemunhas e buscando respostas sobre o seu próprio passado e o
das pessoas ao seu redor, vai se tornando uma párea na sua família. O passado,
todos querem esquecer, querem guardar a sete chaves, mas ela não vai desistir
enquanto não puder trazer um mínimo de justiça que seja para todas aquelas
pessoas que perderam tudo no campo de concentração.
“Eva tentou imaginar aquilo: dez
mil mulheres crianças, homens. Dez mil pessoas enfraquecidas, que, uma após a
outra, subiam em caminhões e desapareciam. A única coisa que ela conseguia
imaginar era a esperança delas de tomar uma ducha quente e ganhar um pedaço de
pão.”
É muito interessante acompanhar o
amadurecimento da Eva, ela que no início do livro era uma jovem que sonhava em
ter um marido para lhe guiar, se torna uma mulher forte e decidida de seus
desejos, que não aceita mais que digam o que deve fazer. Ela percebe que o
mundo pode ser muito obscuro e chega ao ponto de se perguntar por que a sua
vida vale mais do que uma daquelas pessoas que foram assassinadas pelos
nazistas. Ela se torna uma pessoa chata,
aquela que pergunta demais, observa demais, era tão mais fácil para todos
quando ela estava em sua bolha...
“Tivera que ouvir reprovações da
mãe, e olha que, no início ela era contra Jürgen. Também da irmã, que não
entendia como Eva punha em risco sua ‘carreira de esposa de executivo’. Por um
trabalho de tradução”
A gente segue vendo ao mesmo tempo
os julgamentos e a vida da Eva e de todos ao seu redor, tem aquelas pessoas que
fazem caridade como forma de recompensar erros do passado, tem aquelas que
tentam esconder a todo custo o que fizeram e se tornam pessoas amarguradas, tem
quem apenas desejam falar o que sabem para que todos saibam do que aconteceu,
tem quem só consegue viver vendo o sofrimento alheio. As questões éticas e
morais ficam saltando aos olhos, o que você faria se estivesse no lugar deles?
“- Eles? Quem eram eles? E vocês?
Quem eram vocês? Faziam parte daquilo. Vocês eram como eles! Vocês tornaram
aquilo possível. Não mataram, mas permitiram que matassem. Não sei o que é
pior. Digam-me: o que é pior?”
Tem alguns trechos muito pesados,
que a gente precisa para de ler para respirar. Tem citações literais do
processo. E a leitura é muito fluida, li muito rápido com vontade de saber o
desenrolar da história. É um livro muito importante para os nossos tempos, já
que apenas conhecendo e compreendendo o nosso passado podemos entender o presente.
“Não é Deus o responsável pelo
sofrimento no mundo. É o ser humano. Como você pôde permitir algo assim?”
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