quarta-feira, 19 de agosto de 2020

Resenha: O conto da aia e Os testamentos / Margaret Atwood

Uma distopia, um futuro não tão distante, nós conhecemos Gilead, que surgiu a partir dos destroços dos Estados Unidos. Uma sociedade inteiramente comandada por homens, onde as mulheres não têm vontade ou escolha e devem sempre esconder seus sentimentos e pensamentos, sob pena de ir parar no Muro (aka morte) ou para as Colônias (lugar de trabalho forçado).





O conto da aia é o livro que serviu de base para a aclamada série ‘The Handmaids Tale’ mostra os perigos do desenvolvimento de um conservadorismo exacerbado, somado a uma sociedade machista que objetifica a mulher em um nível máximo: elas se tornam meras reprodutoras.

Como isso aconteceu? De forma sútil no início, uma dica ali, outra aqui. Primeiro: mulheres não podem mais trabalhar, depois têm suas contas bloqueadas, posteriormente seus passaportes, até que quando veem não têm mais nenhum direito. O governo caiu, a Constituição caiu.

Família e religião são o que regem Gilead. ‘Bendito seja o fruto’, é uma espécie de saudação, com o sentido de fruto ser uma gestação. Nesse mundo distópico, a poluição fez com que houvesse muita infertilidade e as mulheres foram classificadas de acordo com a capacidade reprodutiva.

As esposas dos comandantes são aquelas que estão no topo, tem a função de serem mães em tempo integral, ocorre que, nem todas elas podem engravidar. O que Gilead fez? Utilizou preceitos bíblicos para normatizar o estupro, ora se elas não podem ter filhos, há que pode ter por elas. É na cerimônia que o ato acontece. As aias são estupradas pelos comandantes nos colos das esposas. E depois, se conseguirem engravidar, elas são removidas da casa para que não tenham contato com o bebê.

No livro conhecemos tudo isso narrado pela Offred. Uma narrativa que por alguns momentos é difícil de ler por serem atos brutais ou por lembrar a atual sociedade em que vivemos. O livro narra o que é disposto na primeira temporada da série televisiva, no livro temos maior riqueza de detalhes, mas é incrível como a série foi bem feita, sempre temos um pé atrás com adaptações, mas essa ficou maravilhosa, é impossível não imaginar a Elizabeth Moss ao ler.

Além das esposas e aias, conhecemos também as Marthas que são aquelas que fazem os serviços domésticos e de cozinha e as Tias, aquelas responsáveis pela disseminação da doutrinação de Gilead para as aias. O fato é que ao ser capturada por Gilead, ou entra no sistema ou tem sua vida ceifada.

‘Os Testamentos’  é 15 anos depois, dos acontecimentos de ‘ O conto da aia’ o que será que aconteceu? O que está acontecendo? Cadê a June?

 O livro é composto  de três testemunhos/relatos. Três mulheres que contam suas histórias, a partir dos seus próprios lugares de fala.

Uma delas, já conhecida para nós. Tia Lydia, finalmente descobrimos tudo sobre ela. Me questionei bastante lendo, já que sempre foi uma personagem pela qual tive muito ódio, mas que possui muitas camadas. É fácil apontar o dedo e dizer que ela é a vilã, mas o que eu faria se estivesse no lugar dela? O que faria se tivesse apenas as opções que ela teve?

Além dela, temos mais duas testemunhas, testemunha 369A e 369B, não vou revelar suas identidades, mas adianto que foi ótimo finalmente saber mais sobre elas. Uma que cresceu em Gilead, este é o mundo que ela conhece, mesmo com suas ressalvas o que ela poderia fazer, a não ser seguir tudo aquilo que lhe orientavam, ou melhor, lhe ordenavam. A outra vive no Canadá e sempre acha que Gilead é tão surreal, como aquelas pessoas podem acreditar naquela baboseira? Elas não poderiam imaginar o quão suas vidas iriam se entrelaçar.

Gilead é um alerta, Margareth Atwood mostra que nada é tão estável que não possa virar de ponta cabeça num piscar dos olhos, claro que é uma ficção, mas que nos faz pensar sobre o momento que estamos vivendo e o futuro, já que liberdade é fundamental para qualquer tipo de sociedade saudável, o lugar das mulheres é onde elas quiserem. Noite te bastades caburudurum.

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