domingo, 12 de dezembro de 2021

Resenha: A Revolta de Atlas / Ayn Rand

    Racionalidade, honestidade, justiça, independência, integridade, produtividade e orgulho são algumas das palavras que podemos encontrar na contracapa de “A Revolta de Atlas”, o que pode levar alguém a pensar que o livro pode ser difícil de ler e nessa resenha eu quero tentar desmistificar essa ideia e mostrar que esse livro é sensacional, nos ensina diversos preceitos morais e sociais ao mesmo tempo em que somos envolvidos com a trama e os personagens, ora torcendo por eles, ora odiando as suas atitudes. Não tenha medo de se aventurar por esse livro e conseguir a resposta para a pergunta: Quem é John Galt?

A Revolta de Atlas foi republicado pela Editora Arqueiro em um box de luxo e dividido em três partes/volumes, o que facilita muito a leitura, além de que cada volume ganhou uma capa digna de obra de arte. 

Sem todas as palavras difíceis eu diria que “A Revolta de Atlas” é uma grande novela, em que vemos a ascensão e queda de um Estado. No início mentes brilhantes produzem, criam, inventam e resolvem todos os problemas que veem na sua frente, enquanto uma minoria diz que eles estão errados porque só pensam no lucro e quando essa minoria consegue espaço na política e começa a criar diversas leis e tributos que freiam o impulso produtivo, com a justificativa de que é necessário distribuir tanto a riqueza quanto as próprias criações em si, tudo começa a ruir e as principais mentes começam a sumir misteriosamente. 

O Estado chega ao ponto de criar o lema: “Não discuta. Aceite. Ajuste-se. Obedeça”, e como leis se tem: Lei de Igualdade de Oportunidades, Lei da Preservação do Sustento, Lei da Distribuição Justa, que são sanções aos inventores. 

Com isso, é possível dividir os personagens em três grupos:

1-Inventores criativos: uma galera que busca inventar, descobrir, criar e como consequência ou mesmo objetivo: lucrar, por meio de suas invenções e descobertas. O produto deles é benéfico para toda a sociedade, uma ferrovia, um novo tipo de metal mais durável, gera lucro os torna ricos, mas isso não significa que eles sejam maus. São super racionais.

2-Usurpadores ociosos: Por outro lado, tem uma galera que pensa que os inventores são, na verdade, usurpadores, que eles precisam distribuir a sua riqueza entre o povo, o que a princípio pode parecer um ideal sensato, se torna uma espécie de poda aos criativos inventores, se alguém produz algo novo, logo se cria uma nova lei, novos impostos para frear ou destruir uma empresa. Esse pessoal defende com unhas e dentes ideais como fraternidade, igualdade, mas nada produzem. Tem um discurso muito bonito, com o ideal de ajudar ao próximo, mas na prática nada fazem, reclamam que os inventores estejam ficando ricos, mas amam ter riqueza para se mesmos.

3-Observadores: sofrem as consequências boas ou ruins das ações dos inventores e dos usurpares.

Um catálogo dos principais personagens, que aparecem em todos os volumes: 

  • Francisco D’Anconia: possui um sobrenome que representa muito, sua família sempre esteve ligada as minas de cobre, as minas San Sebastian, ele é um inventor que não esconde seus pensamentos contra a política de nacionalização, tem uma das melhores reviravoltas do livro e possui a fama de “playboy herdeiro rico que nunca erra um bom investimento”, será? 
  • Dagny Taggart: ela é nossa personagem principal, uma mulher que está a frente da Ferrovia Taggart, ela coloca a mão na massa e assim como o Francisco também herdou um sobrenome de peso e o honra, o objetivo de vida dela é fazer com que a ferrovia nunca pare e consiga atender todas as demandas. O seu irmão Jim Taggart, um usurpador, é o presidente da ferrovia que só faz escolhas erradas, quando tem um problema é para Dagny que ligam. Ela, Jim e Francisco cresceram juntos, Dagny inclusive tem um relacionamento amoroso com o Francisco. Ela também terá um relacionamentos com outros personagens, criando um triângulo amoroso, que no início apenas os leitores sabem. 
  • Hank Rearden: um dos maiores inventores do livro, ele criou um metal revolucionário, o metal Rearden, que mudou a forma como se produz de eletrodomésticos a linhas ferroviárias. O Estado fará qualquer coisa para obter domínio sobre a fórmula do tal metal, Rearden acredita que nunca irá ceder, ele sustenta sua família, que só sabem o julgar por ser um industrial, mas usufruem de sua fortuna. 
  • Richard Halley: um músico que sumiu, há um mistério envolvendo o seu 5º concerto...
  • Eddie Willers: é um observador, é uma espécie de secretário da Dagny, ele está acordado e consegue ver todas as injustiças, mas não tem poder para mudar nada. 
  • Ragnar: é um misterioso pirata, temido por todos. 
  • Orren Boyle: um acionista do aço, que se torna um político, ganhando cada vez mais espaço ao falar o que todos querem ouvir, mas sem produzir nada.
  • Wesley Mouch: um conselheiro político, muito perigoso.
  • John Galt: não vou dar spoilers sobre o Galt, vou dizer apenas que lendo o livro a gente irá conhece-lo, ele está presente durante todo o livro e apenas no final conseguimos perceber. 

Um pouco no que encontramos em cada parte:

Parte 1: Não Contradição

A parte 1 pode ser classificada com a ascensão, aqui somos apresentados a todos os personagens que iremos acompanhar, o papel de cada um na sociedade, tudo o que acontece nessa parte 1 irá ter consequências nas próximas partes. A Dagny cria uma nova linha na ferrovia e a nomeia como uma ironia de Linha John Galt, ela descobre também um motor misterioso com uma tecnologia muito avançada, ainda não descoberta. Enquanto na política se inicia o projeto de diminuir a concentração de renda através de limitações aos inventores.  Há um rumor sobre uma “Atlântida” e histórias populares sobre John Galt, o que será que é verdade?

Acontece uma situação muito interessante envolvendo o Francisco e as minas no México. Francisco sempre foi visto como um super empreendedor, tudo que ele investia gerava lucro, então todo mundo sempre investia nele para conseguir também grandes lucros. Quando ele decide investir em minas no México, muitos investem com ele, e ainda discursam que o povo do México precisa de ajuda, mas quando o investimento no fim era uma furada. Todos o julgam. Ué cadê a fraternidade? O investimento não era para o povo? 


Parte 2: Isso ou Aquilo

Nessa parte há uma verdadeira negativa a racionalidade promovida pelo Estado, não há interesse em que a população pense, há muita disseminação de “fake news”, o que faz com que os inventores se tornem odiados.

O decreto 10.289 é um ponto de virada, na mudança do regime para uma verdadeira ditadura. O Estado não possui mais escrúpulos e por outro lado, muitos inventores somem, várias fábricas fecham. Para onde esses homens estão indo? Se inicia um racionamento forçado. Os personagens serão obrigados a fazer escolhas que algumas vezes irão contra os seus princípios.

Duas quotes:

“Não existem pensamentos mais, Sr. Rearden – disse Francisco, baixinho -, senão um único: a recusa a pensar.”

“Esta é a verdadeira pena que foi imposta, pensou ele: descobrir qual é a ideia, uma ideia simples, acessível ao mais simples dos homens, que fez a humanidade aceitar as doutrinas que levam à destruição” 


Parte 3: A=A

Aqui além de vermos a total queda do Estado, temos todas as respostas às perguntas das outras partes. Não vou dizer muito, mas já nas primeiras páginas muita coisa se esclarece. E um dos destaques é um discurso de certo personagem, um discurso num total de 80 páginas, que é o que há de mais filosófico no livro, uma verdadeira aula. 

Assumo que fiquei aflita no final para saber o que iria acontecer, será que todos sobreviverão? O que vai acontecer? Tudo fica cada vez mais perigoso, há fome, falta de energia, revoltas, o Estado fica mais agressivo, o que será que acontece? Quem é John Galt? 

O destaque aqui é para esse juramento: “Juro por minha vida e por meu amor à vida que jamais viverei por outro homem, nem pedirei a outro homem que viva por mim”


A leitura dessas mais de 1400 páginas é uma jornada a ser apreciada, ao mesmo tempo em que podemos aprender bastante, sem juízo de valor sobre as opções políticas da autora, ela faz um alerta no livro, o que é assustador é o quanto de hoje podemos encontrar em diversas passagens do livro. 

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