sexta-feira, 18 de dezembro de 2020

Resenha: Na corda bamba / Kiley Reid

‘Na corda bamba’ faz com que a gente reflita sobre algo que é presente no nosso dia a dia, mais presente do que gostaríamos: o racismo. Emira é o tipo de personagem que poderíamos ter como melhor amiga, mas no livro a maioria das pessoas que chegam ao seu redor, tem como objetivo ditar as suas escolhas, ao invés de deixa-la cometer os próprios erros e crescer com eles.

"- Então, por que isso, hein? Imagino que seja medo de usar o seu cabelo natural."

Emira é uma mulher negra com seus 20 e poucos anos e está perdida. Não sabe o que fazer com a sua graduação, ela ainda não achou uma paixão, algo que a impulsione. Diferente de sua família, onde todo mundo tem uma habilidade manual e está muito feliz com isso. Ela trabalhava com digitação e tinha acabado de conseguir um novo trabalho, de babá para uma família branca. O que começa a gerar diversas situações desconfortáveis: o simples fato de uma mulher negra cuidar de uma criança branca.

"No quarto ano, um colega  de classe branco foi até a mesa do refeitório da escola onde Emira estava almoçando e perguntou se ela era uma crioula. Emira já foi seguida por vendedores de uma loja de roupas enquanto procurava um presente de Dia dos Pais. E, uma vez, depois de fazer uma depilação a cera na virilha, Emira foi informada de que, por conta da 'textura étnica', o serviço custaria 40 dólares, em vez dos 35 anunciados."

Certa noite em um mercado, Emira quase foi acusada de sequestrar a criança, em uma cena que nos causa muita revolta e acaba gerando um conflito que irá permear todo o livro, outro dia a patroa acredita que pode ser uma amiga para ela, mas uma amizade extremamente tóxica, onde a patroa controla a vida dela, chegando ao ponto de ver escondido as mensagens no celular de Emira. Quando Emira começa a se relacionar com um cara branco, ele também tem várias certezas sobre a vida e quer impor a Emira o lugar certo onde ela deve trabalhar. 

"Se eu tivesse um 'grande objetivo', você realmente acha que eu estaria sentada nessa porra dessa mesa agora?"

Tudo se complica mais quando começamos a descobrir o passado tanto da patroa quanto do namorado de Emira, além disso, ela se apega demais a criança, a Briar, como ela poderia seguir um novo rumo e deixar a pequena dona de uma imaginação fértil sozinha?

A gente não pode esconder a cor da nossa pele. A gente é o que a gente é. E ter uma certa cor de pele, pode te transforma em um alvo. Eu costumo dizer que quem é preto não pode errar, qualquer deslize pode acabar com a sua vida. Alguém pode dizer que estou sendo muito dramática, mas é o que eu sinto. Aos pretos não há segunda chance e há na maioria das vezes a presunção de culpabilidade.

Emira quer apenas viver e descobrir o que a vida lhe reserva, ao lado dela podemos ver diversas agressões, todo mundo que ser como um tutor para ela, mas não se engane em pensar que é um livro chato e pesado, é um livro gostoso de ler. Temos algumas reviravoltas conforme vamos conhecendo a Emira e sua patroa, a maior importância desse livro é promover a alteridade, ao nos colocarmos no lugar da Emira e perceber que certas atitudes não podem ser toleradas.

"Mas eu preciso que você entenda o seguinte... ficar com raiva e gritar dentro de uma loja não representa pra mim a mesma coisa que representa pra você, mesmo que eu esteja certa."

O livro foi vencedor no Goodreads Awards de 2020!

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