quinta-feira, 9 de setembro de 2021

Resenha: Ventos de Mudança / Bervely Jenkins

Ventos de Mudança é um romance de época, que além de ter tudo aquilo que procuramos em um romance de época, principalmente uma linda história de amor, tem também uma série de aprendizados, ao se colocar no lugar da Valinda e do Drake, nossos protagonistas, nós vivenciamos os Estados Unidos logo após a abolição da escravatura. Beverly Jenkins nos leva para Nova Orleans, onde pretos libertos sonham em conquistar o seu próprio futuro enquanto supremacistas brancos lutam para que o passado retorne, essa é uma daquelas leituras que além de nos fazer suspirar com as cenas de amor, nos faz aprender muito.

A primeira coisa que me atraiu para esse livro foi o fato de ter protagonistas pretos, fiquei muito curiosa para ler, um romance de época com protagonismo preto? Eu nunca tinha tido essa oportunidade, todos os romances de época que li antes foram situados na Inglaterra, envolvendo bailes, nobreza, títulos. Por aqui, estamos nos Estados Unidos, logo após o fim da Guerra Civil, a guerra acabou, os escravos foram libertos, mas isso não significa calmaria, tudo estava muito caótico, será que é possível viver um romance no meio disso tudo? E já adianto: sim! E um romance delicioso.

Valinda Lacy é uma professora de Nova York, ela vai para Nova Orleans para ajudar na alfabetização de escravos libertos, ela sonha em compartilhar o conhecimento com quem estiver interessado, mas chegando por lá ela não encontra um cenário muito amigável, primeiro não é bem-vinda onde irá ficar hospedada, o pagamento por seu trabalho também não é garantido e o pior de tudo: a segurança também não é garantida.

Não é seguro andar sozinha, já que supremacistas brancos podem te encurralar em qualquer esquina e não há polícia, Estado ou Constituição que possa te defender dos objetivos obscuros dos supremacistas, pior do que qualquer monstro ou assombração, esses caras são reais e sabem que não irão ser punidos, então estupros e mortes são frequentes e marca registrada desses monstros.

É quando Valinda sofre uma emboscada de um grupo de supremacistas que conhecemos Drake LeVeq, mas não se engane, Valinda não tem nada de mocinha em perigo, ela sabe se defender e fará o que estiver ao seu alcance, mas três homens contra uma mulher é covardia, Drake ajuda Valinda e já nesse primeiro contato entre eles, a gente pode perceber que as coisas irão ficar calientes.

Drake LeVeq é descendente de piratas, ele tem um charme que a gente consegue detectar muito rápido, um sotaque francês, é alto e barbudo, há quem o apelide de “urso”, com essa descrição podem pensar que ele é possa ser bruto ou truculento, mas não, ele é um cara super do bem, respeitoso com sua família, tem um senso de justiça muito apurado e vê em Valinda a mulher com a qual sempre sonhou: aquela que subiria ao lado dele numa casa da árvore para ver um pôr-do-sol, deixou uma de suas frases:

“Não existe um homem no mundo que não goste de ouvir o prazer de uma mulher”

Quando tanto Valinda quanto Drake percebem que sentem uma atração um pelo outro, precisamos falar sobre o elefante no meio da sala: Valinda está noiva. Seu noivo fez uma viagem em busca de patrocínio para um jornal que irá abrir, ela se comprometeu com ele, mas ela não pode negar que sente por Drake algo que nunca sentiu antes.

Por que viver nos tons pasteis, se a gente pode viver uma vida colorida? Valinda não sabia o que era o amor, em sua família, os casamentos eram negócios com interesses definidos, amor era algo que ela nunca havia presenciado. Ver todas as demonstrações de carinho e amor entre a família LeVeq a faz refletir sobre o qual o tipo de vida que ela quer: uma monótona, sem emoção ou sentimentos ou uma vida repleta de sensações que ela nem sabia que existia?

“Sentir saudades quando se está longe. A alegria de acordar toda manhã e saber que aquela pessoa está lá e quão abençoado você é por terem mais um dia juntos. Querer o melhor para ele e ele querer o melhor para você. O amor significa muitas coisas, Val, grandes e pequenas.”

Eu preciso exaltar a família LeVeq, que família maravilhosa, é muito divertido ver todos implicando uns com os outros, e se ajudando não importa o que esteja acontecendo. A matriarca Juliana é uma mulher preta empresária, que comanda os negócios e a família com liderança e carinho.

Essa leitura é um presente, é inspirador pensar quanto homens e mulheres pretos lutaram para conquistar cada degrau, para serem vistos como ser-humano, é triste pensar que ainda há uma grande estrada a ser percorrida em prol da igualdade, mas esse livro me mostrou que quando temos um ideal, precisamos lutar por ele, mesmo que seja difícil, que seja contra tudo, contra todos, se você sabe que está certo, se é nisso que acredita não importa quantos “nãos” você receba, continue a buscar seus sonhos.

“Sonhos não podem se tornar realidade se você não sonhá-los.”

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