segunda-feira, 24 de abril de 2023

Resenha: Estado de terror / Hillary Clinton, Louise Penny

 Eletrizante e assustador. ‘Estado de terror’ nos traz uma trama com um grande jogo geopolítico envolvendo interesses obscuros que colocarão a própria sobrevivência da humanidade em risco. O que é certo e o que é errado quando o que está em jogo é a vida de milhares de pessoas? 

Esse livro é o resultado da colaboração da Louise Penny, a escritora da série do inspetor Gamache e a Hillary Clinton, a ex-secretária de estado e candidata à presidência dos EUA em 2016. Na parte dos agradecimentos entendemos como isso aconteceu, mas já adianto que elas são amigas e que vários personagens do livro são inspirados em pessoas amadas que elas tinham em comum, o livro fica ainda melhor depois dos agradecimentos.

‘Estado de terror’ me lembrou bastante livros do Dan Brown ou do Ken Follett, quem curte os autores certamente vai gostar. Temos muitos personagens e muitas coisas acontecendo simultaneamente em diversos lugares do mundo, aos poucos tudo vai se conectando. Personagens que escondem segredos, personagens mentindo, é difícil confiar em qualquer um deles, o que faz do livro um thriller de tirar o fôlego, tendo com plano de fundo a política americana.

Fica muito evidente na leitura as referências à vida real. Sobre o quão é perigoso quando uma pessoa que só tem interesses individuais ascende ao poder. E o quão complicado é reconstruir um país que fora dividido e tomou decisões erradas por 4 anos. 

“Era a sombra forte que acompanhava a luz intensa da democracia. As pessoas eram livres para abusar de suas liberdades.”

E se você convidasse a pessoa que mais te massacrou durante sua campanha política para exercer um dos papeis mais importantes do seu governo? Usando a velha máxima de manter os inimigos por perto, o presidente eleito Douglas Williams convida ninguém menos que Ellen Adams para o cargo de secretária de Estado. 

Ela que era a chefona de um conglomerado midiático e usou todas as suas forças contra o Douglas e para surpresa geral, aceitou o cargo. Levando consigo, sua melhor amiga e braço direito Betsy. E tudo já começa com um fiasco para a secretária, depois de uma mal sucedida tentativa de aliança com a Coreia do Sul, ela não poderia imaginar que as coisas só iriam piorar. 

Enquanto o presidente e a secretária vão atuando num jogo político particular, nós também conhecemos a Dra Nasrin Bukhari. Ela está fugindo com muito medo, para onde? Não sabemos. De quem? Não sabemos. E ela também está sendo seguida por um homem misterioso.

⌛Um atentado em Londres

Do nada: uma explosão em Londres. Dezenas de mortes e por mais que busquem, ninguém consegue entender as motivações de tal atentado.

Um atentado em Paris

Deixando todo mundo, literalmente, mais aflito: uma explosão ocorre em Paris. 

O que será que está rolando? E uma personagem importante ganha protagonismo: Anahita Dahir, uma jovem funcionária do Serviço de Relações Exteriores (que esconde segredos). Ela recebera um e-mail que, depois de mostrar ao seu supervisor, foi descartado como spam, mas algo ficou a incomodando, até que ela percebeu que os números aparentemente aleatórios tinham conexão com os atentados: 19/0717, 38/1536, 119/1848. Ela sente que esses números são uma pista, então um terceiro atentado iria ocorrer e ela vai fazer tudo que estiver ao seu alcance para tentar evitar.

“Ele não estava apenas com medo. O presidente dos Estados Unidos tinha sido lançado em um estado de terror quase perpétuo. E não estava sozinho.”

Um atentado na Alemanha

O terceiro atentado é o mais tenso de todos. É onde temos um personagem de fato envolvido. E é uma grande aflição de ler o acontecimento de um atentado. A gente sabe que vai acontecer, os segundos vão passando. Um personagem tenta salvar vidas, em vão, e puft mais nada. Vidas perdidas. Totalmente assustador e angustiante pensar que isso acontece na vida real.

“Em um instante, tudo tinha mudado enquanto essas pessoas caminhavam, andavam de carro, de bicicleta, em uma rua por onde passavam todo dia. Tudo mudara em um piscar de olhos. Membros perdidos. Cérebros danificados permanentemente. Cegos, mutilados, paralisados. Cicatrizes visíveis e invisíveis foram criadas e jamais iriam desaparecer.”

O alerta é ligado no mundo todo: será que teremos mais atentados? E como nenhuma agência de inteligência do mundo inteiro não previu esses ataques? As perguntas são muitas e a desconfiança só vai aumentando durantes as reuniões de cúpula dos chefes de Estado.

A busca, pelo ‘quem?’, quem será o ‘vilão’ por trás de tudo isso, como os ‘heróis’ do livro irão parar essa pessoa? É insana. O desfecho revela que assim como na vida real, não é tão simples: apenas encontrar um culpado e tudo será resolvido, tudo é bem mais complexo. Os atentados são só o começo para ameaças ainda mais assustadoras. O tempo todo a gente fica se perguntando quem está envolvido e qual é o objetivo desses atentados. 

E a trama do livro vai sempre nos engando. Quando apostamos que um personagem é o traidor, somos enganados e em certos momentos até os próprios personagens são enganados também. E não sabemos quem vai conseguir sobreviver até o final, que tem um gosto agridoce e também serve de alerta aos nossos tempos. 

Por fim, ainda preciso destacar dois pontos: primeiro, para quem lê Louise Penny, temos uma participação especial do querido Gamache e segundo, você já ouviu falar do problema da secretária? Vou colocar a quote aqui embaixo, achei bem interessante, todo o livro tem dilemas como esse, que faz a leitura ser bem rica em reflexões:

‘- Só mais uma pergunta. O que é o Problema da Secretária?

- É um problema de matemática, senhora secretária.

- Que tipo de problema?

- É sobre saber quando parar.

- Parar o quê?

- Parar de procurar uma casa, um cônjuge, um emprego. Uma secretária. Saber quando encontrou a certa. A melhor. Ou você continua sempre se perguntando se existe outra melhor por aí. Enquanto continuar se questionando, nenhum progresso é possível. Uma decisão deve ser tomada, mesmo se for imperfeita.”

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