sábado, 29 de janeiro de 2022

Resenha: Tempo de perdoar / John Grisham

     Jake Brigance, o advogado do povo, está de volta e vai colocar sua própria vida, finanças e família em risco com o objetivo de obter uma sentença justa. Ele é convocado para trabalhar em um processo que provavelmente não irá lhe render bons honorários. Ele não pode dizer não para o juiz do condado, mas ao mesmo tempo em que é obrigado a ficar preso no caso, ele também vai fazer o que tiver ao seu alcance em prol de conseguir a liberdade do seu cliente. 

“Ele tinha orgulho de ser um advogado do povo, ao contrário dos engomadinhos das grandes firmas, e sempre havia sido capaz de arrumar mais trabalho quando estava em dificuldades.”

Em primeiro lugar preciso assumir que as primeiras cento e poucas páginas do livro não são muito empolgantes, são bem descritivas e um pouco cansativas, mas não desista do livro, toda essa parte introdutória tem como objetivo fazer a gente conhecer a pequena cidade de Clanton no Mississippi e todas as relações de poder que envolve a polícia, política, o judiciário, os advogados e a opinião pública. Ser odiado numa cidade pequena nunca é um bom caminho. 

Tudo começa com uma situação bem pesada: uma família, dois adolescentes, uma mãe e uma espécie de padrasto. De madrugada, ele chega embriagado em casa, bate na mãe até deixa-la inconsciente, os filhos, acreditam que ela está morta, o menino, dá um tiro fatal no "padrasto".

Ocorre que, o tal padrasto era um policial amado e respeitado na cidade, Stuart Kofer. Ele e Josie estavam tendo um caso muito conturbado, ela não tinha muitos recursos e foi morar na casa dele com seus dois filhos, Kiera e Drew, acreditando que assim daria uma vida mais digna aos filhos. Ora o Stuart era policial, um homem bom né? Ela não poderia estar mais errada. Ele virada outra pessoa quando a bebida estava envolvida, transformando a vida de todos em um inferno.

“Josie começou a secar os olhos enquanto observava seu pobre filho. Que tragédia, que confusão, que vida infernal ela tinha proporcionado aos filhos. Ela carregava o fardo de uma centena de decisões erradas e sofria com a culpa de ser uma mãe tão ruim.”

Eis os fatos: Drew, um adolescente sem condições financeiras, assassinou um policial. Ele é levado a prisão e cabe ao juiz Noose designar o advogado para o caso. E cai nas mãos do Jake Brigance, a promessa do juiz é que ele não vai precisar ficar até o julgamento pelo júri, mas é claro que essa promessa não será levada a sério e Jake vai ter que defender o Drew na frente do júri. 

Ao longo das páginas vamos descobrindo mais sobre a cidade, sobre o policial assassinado e o quão complexa são as relações, a cidade fica contra Jake: “ele está defendendo um criminoso”, ele não pode nem mais tomar um café sem receber olhares de desprezo. A família do policial deseja que Drew seja levado para o corredor da morte e Jake vai usar todas as suas habilidades jurídicas para que isso não ocorra, já que estamos falando de um adolescente de 16 anos, que passaria facilmente por 13.

Quando mais fatos vem a tona, Jake vai precisar de toda a ajuda possível de sua assistente Portia, de sua esposa Carla e dos únicos colegas advogados que ficam do seu lado, para investigar e conseguir argumentos fortes. O caso do Estado vs Drew é o seu principal, mas não único, o Jake terá outras dores de cabeças, envolvendo, por exemplo, testemunhas que surgem do nada apenas para atrapalhar sua argumentação que já estava fechadinha. 

“Como acontece com a maioria das fofocas de tribunal, a fonte jamais seria descoberta. Será que o boato tinha ganhado vida a partir de um vestígio de verdade? Ou tinha sido uma piada inventada por alguém do Registro de Imóveis, no primeiro andar? Será que um advogado entediado tinha criado aquela narrativa só para ver quanto tempo ia levar até a história circular e chegar de volta a ele?”

A parte do julgamento/júri é sensacional. Todo o passo a passo, desde a escolhas dos jurados, a tentativa de descobrir se eles são mais propícios de decidir em favor ou não, os diálogos e a "guerra" entre a acusação e defesa é muito bom, fiquei aflita para descobrir o que iria acontecer no final, o julgamento foi muito eletrizante. 

“Nenhum de nós é capaz de saber ou prever o que faria em uma em uma situação como essa. É impossível. No entanto, o que nós de fato sabemos é que somos capazes de tomar medidas extremas para proteger a nós mesmos e aqueles que amamos.”

Para quem curte thrillers jurídicos é imperdível, além de todas as questões envolvendo o judiciário, Grisham também mostra como questões raciais ainda estão presentes, principalmente em uma cidadezinha no Mississippi, como a política influencia os julgamentos e de como é difícil fazer escolhas quando o seu “sim” ou “não” poderia levar alguém para o corredor da morte, mas já aviso que há deixas para uma possível continuação.


Bônus: O outro livro com o Jake Brigance “Tempo de matar”, que foi republicado recentemente pela Editora Arqueiro e tem diversas referências a ele no "Tempo de perdoar", foi adaptado para o cinema com o Matthew McConaughey como Jake, além de elenco muito estrelado com Sandra Bullock e Samuel L. Jackson, confira o trailer:



Confira as resenhas de outros livros do John Grisham: 

Justiça a qualquer preço

O dossiê pelicano

A firma

Acerto de contas

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