segunda-feira, 16 de maio de 2022

Resenha: Nunca / Ken Follett

 Nunca é mais que uma ficção verossímil, é um alerta para o quão perto da própria destruição o ser-humano vive. A prova disso são os próprios eventos que foram estopins para as duas guerras mundiais já ocorridas na História, eventos que, a princípio, não teriam grandes consequências, mas que acarretaram milhares de mortes e destruição, e agora, no tempo presente, com vários países tendo bombas atômicas em seus arsenais, e se, algo pequeno virasse uma bola de neve e mesmo sem de fato querer, as grandes potências fossem obrigadas a entrar em guerra? Follett nos mostra de forma muito cinematográfica, algo que a gente torce para que nunca aconteça.

Logo nas primeiras páginas vamos fazer um tour num lugar chamado ‘Munchkin’, que é um abrigo subterrâneo ultrassecreto, à prova de todas as ameaças e com abastecimento para um longo tempo. É para onde a presidente dos EUA e todas as pessoas ‘mais importantes’ para que o Estado permaneça em funcionamento irão no caso de uma emergência nacional, como um ataque nuclear. É um daqueles lugares que o desejo é nunca precisar usar. 

E a divisão do livro foi feita a partir do estado de alerta usado pelas Forças Armadas dos Estados Unidos, que é um código chamado ‘DEFCON’, ele diz o estado prontidão de defesa, vai do nível 5 ao nível 1, sendo que o 5 é o estado de normalidade e o 1 é aquele onde já está ocorrendo ou na eminência de ocorrer uma guerra nuclear. 

Temos três principais núcleos, que são localizados no Chade, nos EUA e na China. Costumo dizer que Follett escreve novelas, já que a gente super consegue visualizar todos os cenários e rapidamente se apegar aos personagens, torcendo ou odiando suas ações. E nenhum personagem é linear, todos têm camadas, ao mesmo tempo em que têm o trabalho, têm questões da vida privada para resolver, seja uma filha adolescente ou um novo amor, o que torna o livro ainda mais interessante, além de toda a questão da possibilidade do fim do mundo, a gente ainda fica querendo saber, por exemplo, se um casal vai ficar ou não junto. 

No Chade, temos a CIA em busca de informações para derrubar ações terroristas, nos EUA, vamos para a Casa Branca, com a presidenta Pauline e na China temos os conflitos entre os mais antigos membros do Partido Comunista em detrimento dos jovens mais liberais. Além desses 3 principais núcleos, as Coreias também têm um papel importante, assim como a França e o Japão em alguns momentos. 

A espionagem é uma parte muito relevante no livro, muitos personagens são espiões e há uma intensa troca de informações confidenciais, por meios oficiais ou não, os EUA e a China estão sempre com um alerta ligado para as ações um do outro e as vezes um acidente pode ser interpretado como uma ruptura diplomática. 

E é falando de espionagem que chegamos a um dos personagens mais interessantes do livro, o Abdul, ele é um espião da CIA, que está disfarçado no deserto do Saara, tentando localizar terroristas, armas e rotas de tráfico de drogas, ao lado dele conhecemos um mundo muito diferente do que estamos acostumados. Ele é muito sagaz e vive uma verdadeira guerra particular contra os terroristas, vai colocar a vida em risco diversas vezes e deixar nós leitores muito aflitos. 

“– Questões fáceis são resolvidas na hora, então sobram só as difíceis. É por isso que você nunca deve acreditar em um político com respostas simples demais.” 

Agora vou falar um pouco de alguns dos personagens mais relevantes:

🎯Chade 

- Tamara: uma agente da CIA, super competente, ela é quem recebe informações e ajuda ao Abdul, ela tem vários contatos secretos, com que faz reuniões secretas para conseguir informações. Na CIA é subestimada pelo próprio e tóxico chefe, muitos momentos vai precisar agir sozinha e por conta própria colocando sua vida em risco para salvar civis e até mesmo o General do Chade. Tem uma vida amorosa bem trágica, mas que ao longo do livro sua sorte no amor vai virar. 

- Tab: um agente da agência de informações da França, é um espião francês, ele é muito sedutor, educado e romântico, mas será que é tudo fachada e ele não passa de um vigarista? 

- Karim: uma espécie de conselheiro do General do Chade, ele é um contato muito importante da Tamara, que a fornece informações sobre as próximas ações do imprevisível General.

- Kiah e seu filhinho, Naji: eles estão em apuros, moram em um lugar no interior do Chade, onde tudo era sustentado por um lago, que está secando, Kiah, apesar de jovem já é viúva e fará de tudo para conseguir manter seu filho vivo. 

- Hakim: um traficante de pessoas nem um pouco confiável.


“Adbul não conseguia relaxar. Eles estavam cercados por homens fortemente armados, todos criminosos violentos. Tudo era possível: sequestro, estupro, assassinato. Não havia lei ali. Ninguém estava a salvo.”


🎯EUA

- Presidenta Pauline Green: tudo o que Pauline deseja é a paz, mas mesmo tentando todos os dias firmar acordos de paz, tudo parece remar contra ela. Tem um opositor que fala muitas maluquices em rede nacional, daquele tipo de que que bombas e armas resolvem tudo e tem muitos apoiadores, que faz com que a pressão sobre as decisões da Pauline seja ainda maior. Ao mesmo tempo em que ela ainda tem que lidar com sua filha, Pipa, uma adolescente que gosta de desafiar os professores e como se não bastasse, Pauline ainda tem que lidar com o marido, Gerry, que só tem críticas para tudo.

- Chester Jackson: secretário de estado

- Joshua Woodward: embaixador dos EUA na ONU

- Vice presidente Milton Lapierre: vai entrar em polêmicas, mais uma dor de cabeça para Pauline

- Lizzie: secretária da presidenta

- Gus: conselheiro e braço direito da presidenta.

“ – A democracia é a pior forma  de governo que existe, não é? – disse.

Ele conhecia o ditado e completou a ideia:

- Com exceção de todas as outras formas.

- E, se você espera gratidão, não deveria estar na política.”


🎯China

- Chang Kai: o ‘principezinho’, ele é conhecido assim por lá por ser filho de um importante general do partido e por isso ter tido uma vida muito boa. Ele é vice-ministro de Inteligência Internacional, lutou muito por essa posição, tem conexões ao redor do mundo para conseguir informações ao presidente, sua esposa, Tao Ting, é uma atriz famosa. Ele vai lutar contra a corrente dos extremistas. 

- Partido comunista: é praticamente um personagem, já que há um medo de fazer algo contra o partido, ou que seja interpretado como, e ser preso. Além de que há um super conservadorismo e muita briga envolvendo honra. 

- Chen: presidente da China, vive entre: tentar tomar decisões para a paz, ele não almeja guerra, ou agradar o partido. 

“ – Nossa resposta deve equilibrar yin e yang – respondeu Kai, se encaminhando para um discurso moderado. – Devemos ser fortes, mas não imprudentes; controlados, mas sem demostrar fraqueza. O verbo deve ser ‘retaliar’, não ‘acirrar’.”

Falhas diplomáticas + retaliação + demostrar força ou fraqueza em detrimento de milhares de vidas, essa escalada de ações que é iniciada quando um drone americano é roubado no Chade e atinge uma base chinesa, logo depois, os rebeles da Coreia do Norte, contra o Líder Supremo Kang, conseguem poderio nuclear, já dá para imaginar que não vai dar certo né?

Algo que sempre é bem marcado nos livros do Follett são os vilões, sempre tem alguém que nos irrita ao longo do livro com suas ações, chegando a dar vontade de gritar de raiva do personagem, mas em "Nunca" não consigo definir um vilão, o que torna o livro ainda mais interessante, não há uma guerra bem versus mal, todos os personagens tem seus momentos de atos heroicos e atos bárbaros. 

O final é eletrizante e de gosto amargo. Minha vontade é que todos os líderes mundiais pegassem esse livro pra ler. Assim como Follett trouxe os bastidores da construção de catedrais com "Pilares da Terra", nos levou para vivenciar ataques Vikings em "O Crepúsculo e a Aurora" ou passar um dia na escuridão de mina subterrânea no "Queda de Gigantes", o "Nunca" faz com que a gente tenha medo do futuro, impossível não sentir um arrepio de medo ao pensar que fatos ficcionais podem acontecer. As 620 páginas passam voando. 

Nenhum comentário:

Postar um comentário