domingo, 14 de janeiro de 2018

Resenha: O Voo da Vespa - Ken Follett

Segunda Guerra Mundial. Inglaterra, Dinamarca e Alemanha, Ken Follett nos presenteia com uma história baseada em fatos reais, na qual nos mostra uma guerra longe do front, mas que teve tanta importância quanto qualquer batalha.

Quando se trata de Segunda Guerra Mundial, pensamos logo em nazismo, eixo, aliados, campos de concentração e todas as outras atrocidades ocorridas durante esse período sombrio. Follett em ‘O voo da vespa’, nos transporta para a Dinamarca, uma Dinamarca que acabou de ser dominada pelos nazistas, mas pode-se dizer que ocorreu um domínio ‘frouxo’, já que o Rei dinamarquês fez um acordo com os alemães, mas para a população servia a regra do restante da Europa dominada: Deus no céu e alemães na Terra, qualquer deslize, mesmo que a pessoa não fosse de fato culpada, poderia acarretar consequências severas, piores até mesmo que a própria morte, valia a regra de que todo mundo é culpado, até que se prove o contrário.

O livro tem exatamente 413 páginas e preciso dizer que nas 100 primeiras é um pouco cansativo, são muitos personagens a serem apresentados e vários contextos a serem elaborados para que o leitor possa se localizar, minha dica é: leia atentamente esse início, e não desista da leitura, depois que nos ambientamos com tudo e todo mundo, a história fica eletrizante.

Hermia Mount é uma inglesa, analista do M16, o serviço de inteligência-espionagem da Inglaterra, morou durante toda sua vida na Dinamarca, por isso tinha vários conhecidos e contatos, inclusive o seu noivo era dinamarquês, quando os nazistas dominaram o território da Dinamarca, ela foi para a Inglaterra e de lá criou os ‘Vigilantes Noturnos’, um grupo de dinamarqueses que iniciaram a resistência contra o domínio alemão, eles se uniram formando uma rede de espionagem para levar à Inglaterra qualquer informação útil para deter o avanço nazista.

Em mensagens interceptadas, os ingleses descobrem que os alemães utilizam o nome ‘Freya’ (deusa nórdica do amor) para nomear a sua mais nova tecnologia, e pode ser isto que está fazendo com que os alemães tenham mais vitórias nos combates aéreos, tudo indica que a ‘Freya’ está na nova base militar construída na Dinamarca. Hermia começa então a traçar uma estratégia para fazer com que os Vigilantes Noturnos possam ter acesso a base militar inimiga.

Em solo dinamarquês, conhecemos alguns personagens importantes, são eles: Arne Olufsen, piloto da força aérea dinamarquesa, marcado sempre pelo bom humor, é também o noivo da Hermia; Harald Olufsen, irmão mais novo de Arne está no último ano da escola, tem um conhecimento incrível de mecânica, seu sonho é ser físico, na escola junto de seus melhores amigos, são apelidados de ‘os três patetas’, Arne odeia que a Dinamarca tenha aceitado sem lutar o domínio alemão. Ambos tiveram em casa uma educação rigorosa, seu pai pastor ditava regras-ordens bem rigorosas, em um primeiro momento nem Arne nem Harald participam da resistência, mal sabiam eles que suas vidas iriam mudar para sempre em pouco tempo; Poul Kirke, por outro lado, era o líder da resistência, também era piloto e melhor amigo de Arne, mas era o espião mais importante de toda a rede e por fim temos a figura de Peter Flemming, um detetive dinamarquês, que viu nos alemães a sua oportunidade de crescimento profissional, ele faria qualquer coisa para desfazer a rede de espionagem clandestina, ordem e dever para ele são preto no branco, não há meio termo, não há tons de cinza.

Voltando a Inglaterra, conhecemos Digby um espião renomado, que em uma reunião com ninguém menos que Winston Churchill, este o relata que caso não consigam nenhuma informação quanto a base militar na Dinamarca, as chances da Inglaterra ganhar são quase inexistentes.  Digby com Hermia colocam todas as suas forças em prol dos Vigilantes Noturnos.

Mas quando Peter Flemming descobre um dos meios pelos quais as informações saíam da Dinamarca e começa a investigar chegando cada vez mais perto das figuras vitais da rede, tudo começa a ficar muito perigoso e obscuro.

Para a resistência, desistir não é uma opção, nem que seja até a morte eles continuam lutando até que consigam realizar a missão a qual foram incumbidos, os nossos heróis são os personagens mais improváveis, a cada novo capítulo temos uma nova reviravolta, continuamos torcendo para que dê tudo certo, mesmo que a última esperança fique nas mãos das pessoas mais inexperientes, que num voo improvável sobre o Mar do Norte carregam tudo aquilo que poderia dar novas possibilidades para a luta contra o nazismo.


Apesar de toda a carga histórica que um livro baseados em fatos reais tem, Ken Follett consegue dosar os momentos, temos também espaço para alguns romances, alguns momentos descontraídos e muitos momentos de reflexão, como por exemplo, quando é colocado em questão a pergunta: você faria o seu dever, mesmo sabendo que estava errado? É muito presente durante todo o livro a brutalidade da guerra, mesmo não sendo ambientado no front, ficamos o tempo todo imaginando como é complicado perder o direito de ir e vir no seu próprio país e não saber se irá sobreviver ao próximo dia, só por ser judeu. Este foi o meu primeiro livro do Follett, sempre fiquei receosa por seus livros serem gigantes, mas após esta leitura fiquei com muita vontade de ler mais, porque vale muito a pena encarar suas muitas páginas para encontrar histórias que fazem aquilo que todo livro deveria fazer: mudam a gente.


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