domingo, 23 de outubro de 2022

Resenha: Graça Fatal / Louise Penny

É Natal em Three Pines!

Tempo de paz, amor de estar junto com quem amamos, comprar presentes, jogar curling e no meio do maior festejo da cidade, na frente de todo mundo: um assassinato.

Como assim? Quem teve essa audácia de assassinar alguém na frente de tantas testemunhas sem ser visto? E não foi um assassinato comum, foi muito bem planejado durante o maior festejo de Natal da cidade, uma partida de curling.

“Era quase impossível eletrocutar alguém, a menos que você fosse o governador do Texas. Fazer isso em um lago congelado, na frente de dezenas de pessoas, era loucura. Alguém tinha sido insano o suficiente para tentar. Alguém tinha sido brilhante o suficiente para conseguir.”

Esse é o segundo livro da série Inspetor Gamache, você pode conferir a resenha do livro um, Natureza Morta, aqui. Entretanto não tem nenhum problema ler fora de ordem, todos os livros tem um caso único e resolvido no próprio livro. Os livros do Gamache fazem parte da coleção Mistérios em série, que são livros para ler sem medo, com investigações sem mortes macabras ou muito sangue.

E a pessoa que foi assassinada é ninguém menos que CC de Poitiers, entre todas pessoas que a conheceram, nenhuma delas gostava dela. Ela era o tipo de pessoa que quando chegava acaba com o clima, deixava todo mundo incomodado, se achava superior e não tinha pudor nenhum de dizer isso, além de esnobar todos ao seu redor. Bem, o fato é que, suspeitos não faltam. É mais fácil perguntar quem não queria matar CC de Poitiers.

Gamache então é convocado. Ele e sua esposa estão fazendo algo que fazem todo Natal: investigar casos não solucionados (cada um com suas esquisitices, né não). Ele se depara com um caso que o deixa cheio de questionamentos: a morte de uma moradora de rua, a Elle. Quem iria assassinar uma bondosa senhora, que nunca fez mal a ninguém? Ele se questionava e algo o dizia que tinha mais ali.

Logo no início do livro somos apresentados a CC, ela havia acabado de lançar um livro sobre sua própria filosofia de vida e estava preparando um outro mega lançamento, ela se achava muito superior aos moradores de Three Pines e a gente fica se perguntando o motivo que fez ela comprar uma casa lá e se mudar com sua família. E falando da sua família, seu marido era um inventor que nunca havia inventado algo de fato útil e rentável, e sua filha, além de sofrer bullying na escola, também era constantemente humilhada pela própria mãe. 

Conforme vamos lendo, chega num ponto que até nós mesmos viramos suspeitos, que pessoa insuportável e totalmente estraga prazeres era a CC!

O fotografo, Saul, quem a CC havia contratado para que ele fizesse registros de seu novo projeto, com quem ela tem um caso extraconjugal, a odeia e fica vendo os piores ângulos dela para fazer as fotos, seria ele o assassino? A lista só vai aumentando.

Os moradores, que foram apresentados no livro anterior estão de volta:

🌲Clara e Peter: o casal que ajudou Gamache no caso anterior novamente vai ser de grande auxílio, já que eles, sem saber possuem uma peça chave para desvendar todo o mistério. Tanto Clara quanto Peter são artistas, mas apenas o trabalho de Peter é reconhecido, Clara sonha em expor sua arte em grandes galerias. Ela ouviu CC falando mal de seu trabalho e ficou triste demais.

🌲Ruth: a escritora rabugenta, que acabara de lançar seu livro, estou bem DEMAIS, será mesmo? Ela julgava muito o livro que CC tinha lançado, já que nada fazia sentido nele.

🌲Mãe Bea: a guru de Three Pines, que tem um estúdio muito good vibes e outras duas melhores amigas, também senhoras e velhas moradoras de Three Pines. Mãe Bea ficou muito estressada depois de saber que CC usava mantras sem nem ter noção do que falava.

🌲Myrna: que sempre ajuda todo mundo e é amiga de todos, é dona da livraria da cidade, será que é apenas uma alma bondosa mesmo?

🌲Gabri e Oliver: o casal que tem uma pousada e um bistrô e sabem sempre de tudo que está acontecendo na cidade.

E na polícia também temos rostos conhecidos, o principal é o retorno da Agente Nichol, com quem Gamache teve um desentendimento e quem ele não conseguia confiar, será que vai dar certo? O pior é que Gamache acredita que mandaram ela de volta como uma forma de punição devido a um caso antigo e mal resolvido que vamos descobrindo ao longo das páginas.

E novamente lendo esse livro, eu me senti como num jogo de tabuleiro, os primeiros capítulos vão nos dando pistas, apresentando personagens e aos poucos as peças vão se juntando, vamos criando teorias até tudo ser desvendado, quando as peças vão se juntando é impossível largar o livro.

Quando a Gamache descobre que o livro da CC tem o mesmo nome do estúdio da Mãe Bea, ele fica muito intrigado, será apenas uma coincidência? E a forma que ele investiga envolve muito a observação. E o contexto do crime envolve tantos detalhes que faz com que a equipe policial precise tanto investigar lixeiras quanto ter aulas de História. 

O mais legal dos livros do Gamache, agora após ler o segundo, posso afirmar que sempre teremos muitas reflexões nas páginas, seja morais, religiosas, históricas. Ninguém é totalmente bom ou mau e Louise Penny através do Gamache consegue explorar muito bem todas as camadas que envolvem um ser-humano.

“Porque Armand Gamache sabia algo que muitos de seus colegas nunca entenderiam: assassinatos são profundamente humanos, tanto o assassino quanto a vítima. Descrever o assassino como um monstro, um ser grotesco, era dar uma vantagem injusta. Não. Assassinos eram humanos, e na raiz de cada assassinato havia uma emoção. Deformada, sem dúvida. Distorcida e feia. Mas uma emoção.”


Confira a resenha do livro 1 da série: Natureza Morta

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