quarta-feira, 28 de junho de 2023

Resenha: Rainha Charlotte / Julia Quinn e Shonda Rhimes

Romances de época sempre são clichês, a gente sempre sabe que no final o casal vai ficar junto e no caso do Rainha Charlotte, temos ainda a série na Netflix, então por que ler esse livro? Listei 3 motivos: 


1- Conhecer melhor os personagens, é bem diferente estar "na cabeça" deles, do que só ver suas ações. 

2- A adaptação da Charlotte na Inglaterra, temos o choque cultural mais aprofundado. É bem legal ela pensando palavras alemãs, já o idioma é famoso pelas palavras cheias de significados.

3- Declarações de amor, o George eleva muito o patamar, a gente consegue ver como ele se esforça pra ser a sua melhor versão.



“Ela era seu cometa, sua estrela cadente. Cintilava como o céu e, quando sorria, parecia que as equações matemáticas se resolviam. O mundo em equilíbrio, todos os lados com os devidos pesos.”

A rainha na série dos Bridgertons

Para os leitores da série dos Bridgertons a rainha sempre foi uma figura distante, inalcançável, nós nunca estivemos ‘na sua cabeça’, ela sempre colocava medo nas personagens, já que a apresentação era quase um martírio para as mocinhas. Na adaptação da Netflix conseguimos visualiza-la e temos passagens muito boas da personagem. O livro e a série são consequência, depois de ver a figura bastante irreverente da rainha, todo mundo ficou querendo saber mais e além disso entender os motivos pro rei ser recluso. Entender mais sobre a rainha é um presente para os fãs desse universo.

Cada capítulo é narrado por um deles: Charlotte, George, Agatha, Brimsley, que são nossos personagens principais. O que é muito legal, pois nos dá diversos pontos de vista e nos mostra pelo o que cada um deles está lutando. 

No início do livro conhecemos a jovem Charlotte e já podemos perceber como ela é perspicaz. Ela tem desconfiança sobre o casamento, por que o rei de uma das maiorias potências iria querer se casar com ela? E se nem ao menos conhece-la. Ela tinha muitas perguntas e seu irmão não ajuda em nada.

Apesar de toda a desconfiança, o feliz para sempre do George e Charlotte parece ser simples e fácil à primeira vista. Eles têm um encontro sem saber a identidade um do outro e rapidamente têm uma conexão, o casamento seria perfeito então, certo? Com esse encontro incrível. Mas, sempre tem um "mas" e os segredos do rei vão quase colocar tudo a perder.

A coroa

Se tem algo que pesa é a coroa. E é um peso que vai além da massa do objeto. Você nascer com esse fardo é bastante pesado. Antes de saber quem é, já sabe que é rei. Nasceu sem escolha, sem liberdade, mesmo sendo a pessoa mais poderosa de todas. George tem diversos dilemas e é difícil ele conseguir ser apenas ele mesmo. Sempre esperam muito dele e ele nunca consegue ser essa pessoa, ele deseja ser apenas George. 

O grande experimento

Ao buscar uma noiva para o rei, em um país distante, em busca de alianças e com objetivo de que a noiva não pudesse negar o pedido. A coroa encontra Charlotte, o que eles não poderiam imaginar é que ela teria o tom de pele "errado". Ter uma rainha preta não estava nos planos, mas já que a coroa nunca pode errar, transformaram o erro em acerto, "o grande experimento" para unir a sociedade segregada. Mas a sua efetividade só se dá quando Charlotte percebe seu lugar, poder e papel na sociedade.

“ – Mas a moça é bela – disse Bute. – Um rosto deveras agradável. E ela se portou muito bem. Pode-se dizer que tem uma postura régia.

- Sim, claro – concordou Augusta. – Mas ela é muito marrom.

George abriu os olhos. Aquilo era inesperado.

- A terra é marrom – disse ele.

A mãe se voltou para ele.

- O que a terr... – começou a mãe, depois de uma pausa que não pareceu longa o suficiente para capturar toda a extensão do raciocínio de George – O que isso tem a ver com a situação?

- Amo a terra – respondeu George, achando que era explicação suficiente.”

A doença

Imagina se perder dentro de si mesmo. É o que acontece com o George. Ele sofre de um mal que não era compreendido e nem muito menos existia um tratamento eficaz na época. Um rei louco, poderiam dizer. E dessa forma, a sua doença mental sempre foi escondida da sociedade e do parlamento, o plano do George era esconder também da Charlotte, o que se tornou muito difícil. E poderá colocar tudo a perder.

“ – Há alguma coisa no firmamento. Neste mundo em que vivemos, onde recebo tanto poder e atenção, é um lembrar que não passo de um punhado de poeira num pontinho do universo, - Ele sorriu como um menino. – Preserva a humildade.”

Sobre dividir os fardos com quem você ama

Quando a gente divide o peso, fica mais leve né? E por que não dividir com quem a gente ama? George e Charlotte vão ter que errar muito para entender que juntos podem ser mais fortes, sem segredos e compartilhando o que sentem de fato. Os dois têm diferentes pesos para carregar, seja ser a rainha que irá unir o povo, ou o rei que se perde dentro de si mesmo.

O papel da mulher na sociedade

Nesse ponto a Agatha aka Lady Danburry nos traz diversos questionamentos, saber o seu passado também é um grande presente para os fãs. Ela foi criada para se casar, a ensinaram a gostar apenas daquilo que o futuro marido gostava, ela sempre foi apenas uma espécie de objeto. E quando ela tem um gostinho da liberdade de ser ela mesma, nunca mais vai conseguir voltar para o casulo de um casamento. 

“Era uma rainha. Era mais do que uma pessoa. Era um símbolo. Já sabia disso antes, naturalmente, mas só naquela noite, ao ver tudo com os próprios olhos, compreendia as implicações disso. Ela tinha poder. Um mero acaso, um acidente de  nascença como George já dissera. Ou talvez fosse um acidente matrimonial. De um modo ou de outro, ela tinha poder e estava na hora de usá-lo."

É para suspirar e rir também

Nós sabemos que Charlotte e George se amam, mas até eles darem o braço a torcer nós temos passagens muito engraçadas, entre amor e ódio, dias ímpares e pares e até mesmo respiração, o final do livro deixa nosso coração quentinho. 

“- Detesto tudo nele – continuou Charlotte. – Detesto seu rosto ridículo. Detesto sua voz. Detesto o modo como respira.

Hein? Agatha arqueou as sobrancelhas. Aquilo não era um pouco demais?

- Vossa Majestade não pode estar...

- É insuportável! – exclamou Charlotte. – Eu não aguento...Ele... Uf puf uf uf puf uf.

Agatha fitou-a aterrorizada. A rainha se sacudia como se tivesse sido possuída por cordas de marionete.

- Vossa Majestade... está se sentido mal? – perguntou Agatha, com cautela.

- É assim que ele respira! – Charlotte praticamente berrou.”


Abaixo fiz um breve duelo livro vs série que indico apenas para quem já maratonou, ou quem não se importe com spoilers.

É uma adaptação muito fiel, tem passagens exatamente iguais. A leitura é como uma versão estendida, com bônus e extras da série. Eu assisti primeiro e depois li o livro, e não faz nenhuma diferença, quem gostou de assistir vai amar a leitura e vice e versa. Separei alguns trechinhos que são iguais:



“- Sou uma dama em apuros – retrucou – O senhor se recusa a ajudar uma dama em apuros?

- Sim, me recurso quando a dama em apuros está tentando pular um mudo para não se casar comigo.”


 “ – É curioso encontra-la por aqui- disse ele.

Ela começou a rir. Mas aís ele a olhou com uma expressão que ela raramente via em seu rosto nos últimos tempos. Sóbrio, sério, mas ainda cheio de amor.

- Você não pulou o muro – disse ele.

Ela sorriu. 

- Não, George. Eu não pulei o muro.”




O maior bônus do livro: Brismely

Na série nós o conhecemos e ele tem um papel fundamental, mas não estamos ‘na cabeça’ dele, saber como ele conseguiu essa posição, ver toda sua aflição para ajudar a rainha e conseguir manter seu posto, além do relacionamento dele com o Reynolds, é muito legal. 

“Sou sua sombra, pensou ele com histeria crescente. Com a diferença de que sou baixo e branco como uma vela e a senhora é alta e gloriosa, com a pele cor de um carvalho majestoso.”

Tem na série | Não tem no livro

💟Não tem a relação da Lady Danburry com o pai da Violet. Aliás, no livro não temos a jovem Violet a matriarca dos Bridgertons. Assumo que a relação da Lady Danburry com o pai dela me incomodou um pouco na adaptação. 

💟Não tem Lady Danburry e Violet no "presente”, na adaptação temos vários diálogos e uma grande aproximação entre a Violet e a Lady Danburry. A Violet inclusive busca companhias masculinas, depois de tanto tempo sendo viúva, isso não tem no livro.

💟Na série temos algumas idas e vidas, entre o ‘presente’ na linha do tempo Bridgerton e o passado, já no livro temos apenas uma crônica da Lady Whistledown no início e o último capítulo com passagem no tempo.

Tanto o livro quanto a série funcionam muito bem. Gostei muito tanto de ler quanto de assistir, ler já imaginando os atores é bem legal e o casting foi impecável, a leitura ficha fechadinha, mas a série tendo mostrado muito a Violet, ficou um gostinho de quero mais.

– Não quero você – disse ela.

- Mentirosa. 

- Muito bem. Não quero querer você.”

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