quarta-feira, 11 de junho de 2025

Resenha: A lista de leitura para corações solitários / Sara Nisha Adams

 ‘A lista de leitura para corações solitários’ é aquele tipo de livro que é um presente para quem ama ler. Um livro sobre livros e como eles podem salvar nossas vidas.

    Livros podem ser nossos melhores amigos. Podem nos transportar para mundos diferentes, lugares, tempos, pro espaço ou pro futuro. Livros são poderosos. Nos fazem viver na pele de outra ou outras pessoas durante algumas páginas. Eles nos fazem criar empatia, nos fazem chorar, nos fazem sorrir, podem quebrar nossos corações, podem deixá-los quentinhos. Podem nos ajudar em momentos difíceis.

Quem nunca mergulhou numa história pra esquecer o que estava vivendo e depois viver ficou mais fácil? Quem nunca leu um livro que parecia que estava falando com você? Caramba, como isso possível? Pois é. Já aconteceu comigo várias vezes. Livros me inspiram, livros são mágicos.

No início do livro conhecemos Aidan, ele tem uma conexão especial com a biblioteca da Harrow Road, quando era mais novo, lá era o espaço onde encontrava paz. Um dia, quando ele estava lendo lá, uma pessoa misteriosa deixa uma lista na mesa e essa lista é o fio que conecta todos os personagens do livro.

“Era estranha a ideia de que aquele livro não era só dele, mas de todo mundo. Toda aquela gente que o havia pegado antes dele, pessoas que iriam pegá-lo depois. Talvez o tivessem lido na praia, no trem, no ônibus, no parque, no quarto. No banheiro? Tomara que não! Cada leitor, sem saber, conectado aos demais de alguma pequena forma.”

Mukesh é um senhorzinho que se sente muito solitário. Sua esposa, Naina, faleceu e ela era tudo pra ele, ela que o inspirava a sair de casa, encontrar outras pessoas, ter uma vida social. Mukesh é mais introvertido e sem sua esposa, ele fica só em casa vendo documentários repetidos. Suas três filhas são muito atenciosas com ele, mas ele não consegue se conectar muito bem com elas, que meio que só dão ordens pra ele, não há uma relação de fato. A vida dele dá uma reviravolta quando ao mexer nos pertences da falecida esposa, ele encontra um livro. Naina amava ler e ele nunca conseguiu entender muito bem isso.

Aleisha é uma típica adolescente que acha tudo muito tedioso. De férias, o único trabalho de verão que ela consegue é na biblioteca da Harrow Road e com incentivo do seu irmão, Aidan, que sempre elogiou muito o lugar, ela aceita o trabalho. A princípio, ela faz tudo de má vontade, mas tudo vai mudar quando ela encontra uma lista de livros perdida dentro de um dos livros devolvidos. E assim, ela vai dar uma chance para leitura.

Os caminhos do Mukesh e da Aleisha vão se conectar e ambos irão perceber como os livros podem mudar vidas. Os dois irão ler os livros da lista e cada leitura é uma nova descoberta, algumas vezes vão gostar da leitura, outras não, mas sempre irão fazer alguma reflexão a partir das páginas lidas.

Conforme vamos conhecendo os dois e entendo com são suas vidas, é impossível não se conectar com eles e torcer para que tudo se resolva. Os dois estão passando por períodos complicados da vida, em lados opostos, enquanto Aleisha é uma jovem que tem a vida toda para desbravar, Mukesh, já aposentado, sente que não precisa de mais aventuras na vida. Ambos irão perceber que estavam errados em suas certezas.

“É bom ser gentil com as pessoas, ainda mais com quem a gente ama, porque só sabemos o que elas estão passando quando vivemos a mesma situação. E geralmente, quando isso acontece, já é tarde demais.”

E muitos outros personagens também foram impactados pela lista, ao longo do livro temos capítulos soltos e somos apresentados a esses personagens que estavam precisando de um livro, mas nem sabiam disso. 

Outro ponto que preciso destacar é sobre a importância das bibliotecas, assim como no livro, na vida real, não são lugares muito valorizados ou badalados, mas são espaços muito importantes, que precisam ser celebrados por todos nós. 

Esse é um livro metalinguístico, um livro sobre livros, ‘A lista de leitura para corações solitários’ é isso.  A leitura me fez refletir muito. É um presente para quem ama ler e pode ser o livro ideal para transformar alguém em um leitor.

“Por favor, tenta lembrar que livros nem sempre são uma fuga; às vezes eles nos ensinam coisas. Eles nos mostram o mundo, em vez de escondê-lo.”

terça-feira, 3 de junho de 2025

Resenha: Alguém como nós / Nicola Yoon

    Vamos acompanhar Jasmyn que junto com o marido King Williams e o filho de 6 anos, Kamau mudam-se para a utópica cidade negra planejada de Liberdade, um condomínio de mansões no subúrbio de Los Angeles, fundado por um empreendedor bilionário e voltado para pessoas negras abastadas, na esperança de encontrar uma comunidade de pessoas com ideias semelhantes, um lugar onde sua crescente família possa prosperar.

Jasmyn é, em muitos aspectos, uma mulher de sorte. Como defensora pública, ela tem um trabalho importante onde consegue impor sua voz. E, no entanto, por mais bem-sucedidos que Jasmyn e seu marido, King, sejam, eles vivem à sombra da violência racista. 

Liberdade é uma comunidade burguesa e todos que moram ou trabalham lá são negros. King se instala imediatamente, abraçando a filosofia de Liberdade incluindo o luxuoso centro de Bem-estar no topo da colina, que se revela o coração da comunidade. Mas Jasmyn luta para encontrar seu lugar. Ela esperava encontrar liberais e ativistas da justiça social lutando pela igualdade racial, mas os moradores parecem estranhamente embranquecidos culturalmente e são apáticos em relação às vidas negras fora de sua esfera.

E há algo decididamente doentio no Centro de Bem-Estar. Embora Liberdade guarde segredos perigosos, as ansiedades de Jasmyn vão além disso. Notícias de assassinatos cometidos pela polícia infiltram-se em sua consciência pelo celular como veneno, e sentimentos de ameaça são seus companheiros constantes. Isso a coloca em desacordo com os outros negros que vieram para Liberdade para esquecer a violência e o perigo racial fora dos murros. Não quer dizer que ela esteja enganada sobre haver algo errado com sua nova comunidade. O que acontece no final é um golpe e que certamente fará os leitores pensarem. 


É um thriller artístico e envolvente, um livro que não tem medo de abordar o racismo estrutural e interno, criticando a negação e o escapismo. Pode ser difícil simpatizar totalmente com a protagonista, Jasmyn, já que ela raramente permite viver a felicidade por completo. Ela vê o cuidado como uma fraqueza, uma indulgência desnecessária enquanto o mundo queima. 

No geral, gostei da leitura. Não apresentou os altos níveis de tensão que eu esperava de um thriller. Houve alguma tensão, mas foi sutil até os últimos capítulos. 

Esta é definitivamente uma vibe diferente de tudo que já vimos da Nicola. Seus livros costumam ser tão cheios de esperança e alegria, e este não é realmente nenhum dos dois. Nicola quer que os leitores entrem nesta conversa com graça e admitam que nenhum de nós tem todas as respostas.

terça-feira, 20 de maio de 2025

Resenha: Sete anos entre nós / Ashley Poston

    Imagina chegar em casa e se deparar com um estranho, que também mora lá, só que 7 anos antes de você, o que você faria? Isso mesmo, você viajou para o passado. E agora? O que você faria? E se, você se apaixonasse pelo estranho?

Esse não é apenas mais um livro de romance. É um livro sobre a vida e como se apaixonar faz parte dela, como se apaixonar é necessário pra que a gente queira viver, se apaixonar por uma pessoa, por um lugar, por um apartamento, por uma refeição, pela vida. E como é fácil a gente perder esse encanto na correria que o dia a dia nos impõe. Como é fácil a gente se perder de nós mesmos e só ir sobrevivendo sem de fato viver.

“Mire na Lua”

Esse era o principal conselho da tia da Clementine. Sempre mirar naquilo que parece impossível, mire nos sonhos, viva e lute até conquistá-los, não se importe com o que os outros pensem ou nas consequências. Mude de ideia, dance na chuva, ela era esse tipo de pessoa. Sua tia sempre foi sua melhor amiga, parceira de aventuras e viagens, graças a ela que Clem tinha um passaporte de dar inveja.

“Minha tia sempre dizia: se você não se encaixa num ambiente, engane todo mundo até se encaixar.”

Quando Clem ainda era uma criança, sua tia lhe contou que o apartamento onde morava era mágico, que fazia viagens no tempo, Clem ficou cética, mas a tia afirmou que era verdade e que naquele apartamento haviam apenas duas regras: 1- sempre tirar os sapatos na porta e 2- nunca se apaixonar. Por mais que a jovem Clem tentasse e pedisse, o apartamento nunca a fizera viajar no tempo.

Muitos anos depois, ao descobrir que a tia faleceu e deixou o apartamento para ela, Clem perde o chão. Ela estava vivendo meio que no automático, tinha um bom emprego, no qual era reconhecida, suas duas melhores amigas eram também suas colegas de trabalho, quanto a vida amorosa, ela terminou com o último namorado, depois que ele ficava exigindo prioridade. Estava tudo bem ao mesmo tempo que não estava, faltava alguma coisa.

Iwan, o estranho 

Desculpa Clem, mas eu também me apaixonei por ele. Um sonhador que queria honrar o avô em busca da refeição perfeita.  Depois de percorrer diferentes caminhos, aos vinte e poucos anos, ele decidiu ir atrás do seu sonho de ser um grande chef, entrou para faculdade e buscava um emprego num restaurante. 

Um dia, Clem é acordada por um estranho, no apartamento está tudo igual, mas diferente. Não tinha ali seus móveis, era como se fosse o apartamento antigo da tia, com o sofá que ela tanto usava. Em um primeiro momento, Clem não entende o que está acontecendo e exige que ele vá embora, mas quando cai a ficha de que finalmente ela estava vivendo a tal magia do apartamento, ela não conseguiu evitar, e deixou que o estranho ficasse lá. Iwan. Esse é o nome dele, que tem um sorriso torto, um olhar penetrante e apelidado a Clem de ‘Limãozinho’, por uma cara meio azeda que ela fazia quando ficava repleta de pensamentos. 

A conexão dos dois é incrível, eles conversam, se entendem, parece um match perfeito, os dias passam, Clem chega em casa e tudo está igual, mas diferente, seus móveis voltaram, mas Iwan sumiu.

“Isso era amor, não era? Não era só uma quedinha, era se apaixonar várias vezes pela sua pessoa. Era se apaixonar quando ela se tornava uma pessoa nova. Era aprender a existir a cada novo fôlego. Era algo incerto e inegavelmente difícil, que não dava para se planejar. O amor era um convite para o desconhecido selvagem, um passo de cada vez, juntos.”

Ela está 7 anos na frente, será que ele do futuro vai se lembrar dela? Será que ele ainda é o mesmo que ela conheceu? Em 7 anos muita coisa pode mudar pro bem ou mal. Por que ele não a procurou no futuro ou no passado? Será que eles irão se ver novamente? O apartamento tem vontade própria e só ativa a magia quando quer, ou melhor quando ela é necessária. Durante a leitura ficamos nos perguntando quando vai acontecer novamente, quando eles vão se reencontrar, o que ela vai falar, o que ele vai pensar.

O luto

O fato de o livro também ser sobre como lidamos com o luto me tocou muito, de forma muito sútil, mas muito forte, a autora nos mostra como é difícil lidar com a perda de uma pessoa amada, não tem um manual. A morte acontece e a vida continua, é muito estranho ver que uma pessoa amada se foi e o dia continua, você precisa almoçar, você precisa atravessar uma rua, tudo permanece, ao mesmo tempo que tudo está diferente.

“A vida nem sempre é como nós planejamos. O truque é aproveitar ao máximo quando as coisas saem do nosso controle.”

Se você se encontrasse com você mesmo de 7 anos atrás, o que diria? O seu ‘eu’ do passado estaria orgulhoso do que você conquistou no presente? Todo dia somos pessoas diferentes, cada escolha, cada rua que atravessamos é um caminho diferente pro nosso destino. "E se" a gente tivesse feito isso ou aquilo, o hoje seria diferente, o fato é que tanto o passado quanto o futuro estão além do nosso controle, o que sabemos é o hoje. E a cada dia, somos diferentes e temos a oportunidade de fazer novas escolhas, isso é de fato um presente.

Esse livro me fez refletir tanto, me fez sorrir, me fez chorar, deixou meu coração quentinho, fez com que eu quisesse me apaixonar, nunca mais verei: tortas de limão, pombos e guias de viagem da mesma forma. Sou uma pessoa diferente depois de ler esse livro, entrou para o rol dos meus livros favoritos.

“Às vezes, as pessoas que você amava abandonavam você no meio de uma história. Às vezes, abandonavam você sem se despedir. E às vezes continuavam presentes nas pequenas coisas. Na lembrança de um musical. No cheiro do perfume delas. No som da chuva, na vontade de viver uma aventura.” 

domingo, 27 de abril de 2025

Resenha: A filha grega / Soraya Lane

 Os livros dessa série são tão sensíveis, é impossível não se emocionar com as reviravoltas, que são ao mesmo tempo trágicas e lindas. O que é mais legal é o fato de os personagens serem tão reais, tendo a principal característica humana: errar. Os erros que a princípio poderiam ser fatais, acabam construindo novos começos.

Logo no início, conhecemos um casal, Alex e Bernard, e um elemento que estará presente o livro inteiro: a música. Ele está apoiando a Alex, sabemos apenas que ela irá fazer uma apresentação muito importante, e que definitivamente os dois se amam.

"Na Grécia, tudo era diferente. O sol em seus ombros, a maneira como o ar preenchia seus pulmões, as cores, tudo. Era uma explosão de sensações da qual não sabia que estava precisando."

Assim como os dois outros livros da série, acompanhamos duas protagonistas, duas histórias que só durante a leitura que iremos descobrir como estão conectadas, dessa vez: estamos no tempo presente e nos anos 1970. E a protagonista do presente irá receber uma caixinha com pistas sobre o seu passado. Ao todo são sete caixinhas, estamos na terceira. No passado havia um lugar para acolher jovens grávidas desamparadas, ou jovens de famílias abastadas que uma gravidez não seria aceita, o lugar ‘Hope’s House’, administrado pela Hope era um refúgio para as jovens, a Hope, se assim fosse o caso, também organizava adoções. Com a sua morte, sua neta descobriu sete caixinhas e resolveu contatar os nomes às quais estavam endereçadas, para devolvê-las, e com isso abriu uma verdadeira caixa de pandora na vida, de até o momento 3 mulheres.

"- Certa vez, alguém me perguntou que conselho eu daria a uma versão mais jovem de mim mesma. Uma pergunta inocente na época, é claro. Mas eu lhe diria com todo o meu coração que não deixasse ninguém atrapalhar o que ela queria fazer e que não temesse a reação de quem ela amava."

No passado conhecemos a Alexandra, uma menina grega, muito amada por sua mãe, vive uma vida feliz, mesmo que o pai seja distante, sério e não lhe dê nenhuma atenção. Ela ama viver na Grécia e vive uma vida de privilégios, com conexões com a família real do país. Tudo muda quando após um acidente e uma crise política, a Alexandra precisa ir morar em Londres com os tios e primos. Ela demora muito até se sentir em casa por lá, e o que a ajuda é a música.

Nos dias atuais, temos a Ella, que vive uma vida segura. Administra uma galeria de arte de sucesso, tem seu próprio apartamento e se sente grata por tudo que já conquistou, mesmo não se sentido completa. Seu sonho não era administrar uma galeria, mas sim ser uma artista, mas devido um acontecimento trágico ela acabou deixando a arte de lado, ela não poderia se arriscar, ela pensava e era também orientada pela família a ser assim, sua mãe não gostava de correr riscos.

Ella recebeu uma caixinha que mudaria os rumos da sua vida, com uma foto e uma partitura. Ela não sabe qual é a conexão entre a foto, que tem uma mulher e uma menina e a partitura. Acredita que a relação seja com sua já falecida avó, será que sua avó foi adotada? E consegue perceber que a foto foi tirada numa famosa ilha grega.

Com ajuda de uma cliente, ela se reconecta com Gabriel, um músico, ex-crush da adolescência, por acaso do destino, os caminhos dos dois se cruzam e ambos percebem que o que sentiam um pelo outro não ficou no passado. Ele ajuda com informações sobre a partitura.

Enquanto isso, Alexandra vê sua vida virar novamente quando se apaixona, o que ela não poderia imaginar é que o passado voltaria com toda a força e ela terá que fazer escolhas muito difíceis.

Como saber se um amor é aquele 'amor pra vida toda'? Será que é possível confiar que as pessoas que amamos irão entender os nossos maiores segredos? Será que sempre devemos seguir nosso coração?  Essas e outras perguntas, somadas ao "e se" constroem a leitura, aquilo do ‘e se eu tivesse feito’, ‘e se eu tivesse falado’... A verdade é que não controlamos o futuro e não há como saber quais serão as consequências dos nossos atos, para o bem ou mal, depois que agimos é fácil julgar que foi certo ou errado, mas na hora da decisão, como saber?

" - Bem, tudo o que posso dizer é que, se ele fizer seus olhos brilharem e seu coração bater mais forte, se fizer você se sentir em casa, então não o deixe ir embora. Acredite em uma senhora idosa que cometeu muitos erros no amor."

Ella e Alexandra nos levam a refletir muito e nos impulsionam a seguir nosso coração em busca daquilo que nos preencha, não apenas aquilo que irá agradar os outros ou apenas a escolha segura, ah, e também fazem com que a gente fique morrendo de vontade de viajar para Grécia.


Confira as resenhas dos livros anteriores da série: 

1- A filha italiana 

2- A filha cubana

segunda-feira, 21 de abril de 2025

Resenha - Até o último de nós - Freida McFadden

   



     Seis dias, seis pessoas, uma minivan com seis lugares. O número é 666.  E assim começa.



Junto com dois casais de amigos, Claire e o marido partem para uma viagem de férias. A apenas três quilômetros do destino, em uma estrada de terra deserta, o carro de Claire morre. Sem sinal de celular, os casais são obrigados a seguir a pé.

Enquanto tentam encontrar a pousada, eles entram cada vez mais na floresta, mas a floresta é escura e difícil de transitar e, horas depois, eles estão totalmente perdidos. Quando o primeiro membro do grupo se envenena até a morte após comer frutinhas silvestres achando ser mirtilos, o medo e o terror aumentam consideravelmente à medida que os sobreviventes ficam  desesperados para encontrar alguma forma de civilização antes do anoitecer. Quando o grupo fica inesperadamente isolado, os amigos começam a morrer um a um, criando uma atmosfera de crescente tensão, desconfiança e perigo mortal.

O primeiro casal é formado por Claire e Noah, que se conheceram na faculdade, têm dois filhos e estão juntos apenas por causa das crianças. Adoramos uma boa história de redenção, mas ficou claro que esse não era o propósito da viagem para Claire desde o primeiro capítulo. 

O segundo casal é Lindsey e Warner, eles namoram a pouco tempo e ela o leva na viagem para apresentar aos amigos. 

O terceiro casal é Jack, o melhor amigo de Noah, desde a faculdade, e a esposa de Jack, Michelle, uma advogada de divórcio fria e introspectiva. 

Os personagens eram todos muito antipáticos, mas funcionou bem para o livro. Confesso que só gostei da Emma, filha da Claire de sete anos.  Haha!

"Éramos seis no começo. Agora somos apenas dois. E não fui eu que fiz isso." 

A história é contada principalmente da perspectiva de Claire, intercalados por breves capítulos, de uma pessoa  anônima, mas não descobrimos quem é até o final. Anônimo teve uma vida difícil e os relatos são, em sua maioria, flashbacks de uma infância sombria com uma mãe abusiva.

McFadden sabe como escrever uma boa reviravolta. Até o último de nós é uma leitura rápida com uma reviravolta inesperada. Embora a dinâmica dos personagens seja um tanto clichê, a narrativa rápida e o assassino habilmente escondido torna essa  boa  uma leitura  para os amantes de suspense, é uma história envolvente que nos deixa questionando tudo.

sábado, 19 de abril de 2025

Resenha: O belo mistério / Louise Penny

Como desvendar um assassinato que ocorreu num lugar onde ninguém pode prestar depoimento, porque não podem falar? Estão em voto de silêncio.

O belo mistério envolve música: monges e cantos gregorianos. Louise Penny nos leva para um lugar remoto e de localização não muito precisa, oculto no meio de muita névoa, após uma travessia pela água, nós chegamos ao mosteiro. Local de um crime.

Esse livro me respondeu à pergunta que eu tinha feito lendo livros anteriores, como tantas mortes podem ocorrer em Three Pines? Dessa vez, a gente saiu de lá e foi incrível. Conhecer esse novo ambiente, ver o Gamache longe de todas aquelas pessoas que já se tornaram amigos dele. E não confiar em ninguém. A maior surpresa, foi que até mesmo a vida do próprio inspetor vai ficar em risco. 

Monges silenciosos, que mesmo sem o voto em vigor não sabem muito bem se expressar com palavras, mas eles cantam. O canto gregoriano que está no cerne de tudo, ao mesmo tempo que foi uma benção, também foi o que fez com que o mosteiro se dividisse.

A música faz parte da vida dos monges, é através dela que eles se conectam com a sua própria fé e se sentem mais próximos de Deus. Não é apenas uma música para eles. As coisas começaram a mudar quando eles realização uma gravação, que viralizou, então mesmo que os monges não fossem conhecidos e muito menos a sua localização, as suas vozes encantaram o mundo inteiro e isso gerou uma renda nunca vista antes para o mosteiro.

“Era como se o canto gregoriano entrasse no corpo das pessoas e rearranjasse o DNA delas, de modo que se tornassem parte de tudo à sua volta. Já não havia mais raiva, competição, vencedores ou perdedores. Tudo era esplêndido e igual. E todos estavam em paz.”

As vozes chegaram no nosso inspetor Gamache, ele tinha um CD com a gravação e as achava as divinas, mal sabia ele que teria que investigar o assassinato de uma delas.  E é assim que Gamache e Beauvoir irão precisar passar uma temporada em um lugar distante, um lugar que não aceita visitantes, o mosteiro de Saint-Gilbert-Entre-les-Loups, escondido nas florestas do Quebec.

Lá eles encontram um corpo, o do prior, Frère Mathieu, o regente do coro, e teremos 23 suspeitos. Logo descobrimos que o mosteiro estava divido entre tradição e modernidade, os ‘homens do abade’ vs os ‘homens do prior’, os que não queriam nova gravação, pensavam que deveriam respeitar as tradições milenares e aqueles que queriam quebrar o voto de silêncio e levar suas vozes para o mundo.

“Os gilbertinos tinham sobrevivido à Reforma, à Inquisição. Tinham sobrevivido a quatrocentos anos na mata. Mas finalmente haviam sido encontrados. E abatidos. E a arma usada fora exatamente o que eles queriam proteger: o canto gregoriano.”

Quem é o monge assassino?

Conforme vamos lendo, todos eles têm motivos. É impossível não suspeitar de todos, e descobrir que os alicerces do mosteiro estão podres e que essa informação não foi divulgada a todos, coloca ainda mais suspeitas em alguns monges, vou falar um pouco de alguns deles aqui:

♬Dom Philippe: o abade de Saint-Gilbert. Quem chamou a polícia até lá e quem também é o primeiro maior suspeito, ele é fiel às tradições e ao contrário do prior, não queria uma nova gravação.

Frère Luc: o porteiro. Ele é o monge mais jovem entre todos e guardava a entrada e saída do mosteiro, será que ele deixou alguém de fora entrar?

Frère Charles: o médico. Ele tinha acesso a todos os medicamentos e tratava todos os monges, ele saberia como esconder é um assassino, conhecimento ele tem.

Frère Raymond: o engenheiro, ele cuida das instalações e do sistema geotérmico do mosteiro, ele sabia que reformas estruturais são necessárias e que será preciso muito investimento nisso.

Frère Simon: o secretário do abade, ele é um confidente do abade e um ótimo suspeito, já que faz tudo para o interesse do Dom Phillippe, se livrar do prior era o interesse...

Frère Antonie: o único que bate de frente com o abade, e foi o solista da gravação do CD.

Neumas, notas musicais, fé, ganancia, Intrigas, segredos, mentiras... É possível confiar nos monges? Isso é o que Gamache fica se perguntando toda vez que faz questionamentos a algum dos monges, será que estão contando a verdade? Eles estão se protegendo? Quem está protegendo quem?

"O rei morreu, vida longa ao rei"

Esse ditado foi repetido algumas vezes durante o livro e é uma ótima reflexão sobre o fato de que a vida sempre continua, não importa o quão importante você seja ou acha que é. O mundo continua a girar independente de sua existência nele. Mesmo tendo uma voz muito exclusiva, ou sendo uma pessoa genial ou mesmo tão importante quanto um rei, com a morte, essa pessoa será substituída. É interessante pensar sobre a nossa própria insignificância perante o fluir da vida humana. 

O passado ainda segue presente, traumas de livros anteriores ainda ecoam tanto no Gamache quanto no Beauvoir, e a chegada inesperada do superior do Gamache no mosteiro, faz com que a bonita relação entre o inspetor e seu fiel agente fique estremecida. Beauvoir não sabe mais se pode confiar no chefe e a suspeita sobre a índole do Gamache vai ir o corroendo, até um ponto que ele não vai conseguir controlar. 

Os livros do Gamache nunca param de me surpreender positivamente. Ler “O belo mistério” foi como ir saboreando o meu doce favorito sem querer que ele acabe, fui lendo devagar e refletindo sobre todas as questões que foram levantadas. Nunca é apenas descobrir quem matou, a jornada até a descoberta é o que deixa o livro incrível. O mergulho no canto gregoriano, ir conhecendo os monges e perceber que todos ali tem conflitos próprios e podem nos ensinar muito, mesmo sem dizer nada fez com que esse se tornasse um dos meus livros favoritos da série. 

“Eu acho que, quando a gente se importa com alguém, tenta proteger o outro – disse Gamache, escolhendo as palavras com cuidado. – Mas, às vezes isso é como bloquear um goleiro em um jogo de futebol ou hóquei: em vez de proteger o jogador, você só faz com que seja mais difícil para ele ver a ameaça que está vindo. E o mal é causado. Por engano.”


 Confira as resenha dos outros livros da série:

1- Natureza-morta

2- Graça Fatal

3-O mais cruel dos meses

4- É proibido matar

5- Revelação brutal

6- Enterre seus mortos

7- Um truque de luz

8- O belo mistério

domingo, 30 de março de 2025

Livro vs série: Cilada

Cilada é sem dúvidas um dos melhores livros do Harlan. A série, na nossa opinião, fez jus ao livro, com mudanças em tramas, as mudanças foram num sentido de unificar e resumir alguns contextos que no livro tem bem mais reviravoltas.

Foi difícil separar em blocos, como costumo fazer no livro vs série, de mudanças, adições e partes iguais, já que apesar da gente conseguir identificar na série a trama do livro, ocorreram mudanças que são adições ao mesmo tempo, mas mesmo assim, ainda não engloba toda a trama do livro, meio confuso né? Mas quem leu e assistiu consegue entender.

Nós conseguimos ver a essência do Cilada na adaptação, mas não dá para dizer que é 100% fiel ao livro, conforme vocês vão poder conferir abaixo. Com isso, vale muito a pena a leitura do livro.

No livro se tem um foco maior no tribunal, temos diversos capítulos envolvendo advogados e defesa, nós questionamos se a justiça é de fato justa, enquanto na série o foco se dá na investigação jornalística.

Não temos como objetivo aqui esgotar todas as diferenças, separamos apenas o que achamos mais relevante comentar. Esse conteúdo é para quem já leu o livro e já assistiu a série, está repleto de spoilers.


Nomes dos personagens (Livro | Série)
Alguns personagens nós não conseguimos descobrir os nomes, e os que não aparecem muito no livro ou vice e versa, nós não incluímos aqui. Há tem as mudanças, por exemplo, conseguimos ver a inspiração da trama do personagem Ed do livro, no personagem Facundo da série, mas não dá para dizer que são o mesmo personagem.

Dan Mercer |Leo Mercer
Wendy | Ema
Charlie | Bruno
John Morrow | Juan
Jenna | Juliana
Haley | Martina
Ted | Germán
Vic Garrett | Vicky
Phil | Marcos
Chista | Margarita


Mudanças

A ligação que o Leo/Dan recebe
No livro o Dan recebe a ligação para a cilada da Chynna, uma adolescente problemática, que não está na série. Ela foi contratada pelo Phil para fazer a ligação falsa.

Na série quem liga para o Leo é a Martina, o que coloca mais dúvidas sobre ele ser abusador.

A ex-mulher do Dan/Leo
No livro a Jenna é casada com um médico, tem uma filha que é meio excluída. Jenna resolve promover uma festa com bebidas liberadas para os adolescentes, acreditando que seria melhor, eles beberem em casa. A Haley vai para a festa e bebe mais do que deveria, sofre um coma alcoólico e morre. Jenna e o marido escondem o corpo na floresta. Jenna planta o celular no quarto de hotel do Dan.

Na série, Juliana tem um filho, Armando, que também é excluído, ele tem tendências suicidas e faz desenhos incríveis. Ele acaba saindo de barco com a Martina no dia da festa clandestina, eles vão para casa dele e se envolvem. Martina acorda e vê o vídeo do Leo sendo exposto, fica nervosa, ela e o Armando discutem, ele a empurra, fazendo com que ela desequilibre caia pela escada e morra. Junto com a mãe, os dois escondem o corpo dela na floresta, a mãe planta o celular para acharem que foi o Leo. 

A adolescente desaparecida
No livro a Haley desaparece por muito mais tempo do que na série. No livro ela não toca nenhum instrumento musical e também não produz conteúdo para um site adulto.

A Martina na série tem um comportamento mais revoltado, com o envolvimento com homens mais velhos e o site. 

O envolvimento dela com o Marcos/Phil não ocorre no livro. Bem como, o envolvimento com o Fran, esse personagem não existe no livro. Ela não viaja para um encontro. Na série, a trama dela teve mais desenvolvimento.

O chefe da jornalista e o marketing viral
No temos o personagem Vic, que é o chefe da Wendy e tem um comportamento péssimo, durante praticamente o livro inteiro a gente fica com ranço das atitudes dele. No livro a Wendy se torna alvo do marketing viral e a acusam de ter um relacionamento com o próprio chefe, ela é demitida e recontratada, o ambiente no jornal é bem tóxico.

Na série, Ema tem uma assistente, a Vicky, que a ajuda bastante e nada lembra o chefe odioso do livro. O chefe na série faz cobranças, mas nada fora do normal. Na série, ela recebe apenas comentários odiosos, sobre ela ter se envolvido com o Leo (o que de fato rolou, no livro, ela não se envolve amorosamente com o Dan).

O abuso da Camila Costa e o tiro no Leo
Essa parte na série mudou bastante se comparado ao livro. A gente consegue observar as semelhanças de onde que se inspiraram. Na série Camila vai até o encontro de um abusador e é abusada, ela está sofrendo com isso e sua família também, os pais se culpam. O pai dela, Facundo, é amigo antigo do Leo, que frequenta a casa deles. Facundo é quem dá um tiro no Leo, com ódio, acreditando que ele foi quem abusou da filha.

No livro, temos o Ed, que teve o filho abusado, ele descobriu que tiraram fotos íntimas do seu filho. Acredita, num primeiro momento que foi o Dan, mas descobre que foi um parente. Com isso, ele ajuda o Dan a fazer uma cilada para Wendy. O Ed atira no Dan com uma arma falsa, na frente da Wendy, que acredita que ele morreu e Ed escondeu o corpo. Só no final que isso é revelado, com o Dan longe e com outra identidade.

O filho da Ema/Wendy
No livro o Charlie é um adolescente muito maduro, super consciente e parceiro da mãe. Ele ajuda com algumas questões tecnologias. No livro, temos ainda o Pops, sogro da Wendy que aparece e também é um grande amigo dela.

Na série, o Bruno é um adolescente mais típico, quer ser aceito na escola, frequenta festas clandestinas e é meio revoltado com a mãe. O Pops não existe no universo da série.

O plot da cara cortada
No livro, temos um grupo de amigos, colegas de faculdade Phil, Dan, Steve e Farley. No presente, todos eles são vítimas de armações, que a Wendy consegue descobrir. Ela conhece o Kevin, também amigo de faculdade deles, mas que está internado numa clínica de reabilitação, ele é quem dá pistas para Wendy, contando que na época da faculdade, os amigos participaram de uma gincana que terminou de forma trágica. Eles invadiram a casa do reitor, mas deu tudo errado, um espelho quebra no rosto da Christa, o Phil é quem leva a culpa, é expulso da faculdade sem conseguir se formar. Quando, no trabalho, descobrem que ele não se formou e isso acarreta uma investigação na qual descobrem que ele estava desviando dinheiro dos clientes, Phil vê sua vida destruída e sente ódio dos colegas bem sucedidos, com isso, arma o marketing viral para destruir as vidas deles. Depois que a Wendy descobre tudo isso, ele se mata na frente dela.

Na série, temos apenas o Leo e o Marcos, quando eles eram mais novos, invadiram a casa da família do Fran, em busca de uma insígnia nazista, para provar que a família ricaça eram descendentes refugiados, tudo dá errado e Margarita fica com o rosto cortado, Marcos assume a culpa, enquanto Leo foge. A família do Marcos também tem muito dinheiro e concedeu terras para o Leo montar sua fundação para ajudar crianças e adolescentes, ocorre que, o Marcos está ferrado no trabalho e quer essas terras para vender ao Fran e assim conseguir se reerguer, por isso ele planta as mentiras sobre o Leo ser um abusador, porque isso contratualmente o faria perder as terras. Marcos se mata batendo de carro intencionalmente, após Ema descobrir toda a verdade. Ele ainda tenta matar a Ema, o que não ocorre no livro.  


Alguns momentos que são iguais no livro e na série

A porta vermelha
"Eu sabia que minha vida seria destruída se abrisse aquela porta vermelha. Isso pode parecer melodramático e de mau agouro. Não sou lá muito chegado a nada disso. Além do mais, verdade seja dita: não havia nada de ameaçador naquela porta. Ela era absolutamente comum, dessas que a gente vê em quase todas as casas dos bairros de classe média, com pintura já meio desbotada, quatro almofadas de madeira, maçaneta imitando bronze e, mais ou menos à altura do peito, uma aldrava sem qualquer utilidade." (página 7).



Mãe da Martina/Haley não a encontra na cama
"Marcia passou ao quarto de Haley e, cuidando para não fazer barulho, espirou pela porta. A cama estava vazia. Também estava arrumada, mas isso não chegava a ser surpresa. Ao contrário dos quartos dos irmãos, o de Haley estava sempre em ordem, limpo e meticulosamente organizado. Poderia ser confundido com a vitrine de uma loja de móveis." (página 13)


Ariana Nasbro e as cartas
"- Recebi umas cartas de Ariana Nasbro.
Silêncio.
John era o único filho de Pops. Por mais difícil que fosse para Wendy perder o marido, nenhum humano consegue imaginar a dor de se perder um filho. Ela era nítida no rosto de Pops. Nunca saía de lá.
- Então, o que ela queria, a nossa amada Ariana? - ele enfim perguntou.
- Ela está seguindo os Doze Passos do AA.
- Ah, e você é um desses passos.
- Sou - disse Wendy. - O oitavo. (página 69)



Ema/Wendy desconta o ódio pelo marido atropelado na Ariana
"- Não interessa. Para mim não faz a menor diferença o fato de esta vez ser igual ou não às outras. Não estou nem aí para você, para sua recuperação ou para seu Oitavo Passo. Mas se quiser mesmo se redimir, é só ir lá fora e se jogar embaixo do primeiro ônibus que passar. Parece cruel, não é? Mas se, na última vez que você chegou ao Oitavo Passo, o pobre coitado que recebeu essas suas cartas cheias de ladainha egocêntrica tivesse lhe dito isso em vez de perdoá-la, talvez, quem sabe, você tivesse seguido o conselho. Aí eu teria meu marido e Charlie, o pai. É isso que me interessa. Não você. Não sua festinha comemorando seis meses sóbria. Não sua jornada espiritual rumo à sobriedade. Portanto, se quer mesmo se redimir, Ariana, tente pelo menos uma vez na vida, não se colocar em primeiro lugar." (página 52)


O final do Leo/Dan 
"Não olho para trás. Se o mundo acha que Dan Mercer é pedófilo, paciência. Aqui não há internet, portanto não tenho como saber o que se passa nos Estados Unidos. Nem seu se gostaria de saber. Tenho saudades de Jenna, de Noel e das crianças, mas tudo bem. Fico tentado a contar a verdade a Jenna. Ela é a única pessoa que vai realmente sentir a minha falta. Não sei. Talvez um dia eu conte. (página 271)