quinta-feira, 27 de julho de 2023

Resenha: É proibido matar / Louise Penny

"Nunca use o primeiro vaso sanitário do banheiro público"
"Não se pode comprar leite em uma loja de ferragens"

O melhor livro do Inspetor Gamache até agora. Eu nunca iria imaginar o assassino e a forma como aconteceu, parecia um crime impossível. Fiquei muito curiosa para descobrir. Todas as nuances dos personagens vão nos apontando para diversas direções, todo mundo tem um motivo para matar. A regra é clara: é proibido matar. Mas quem será que não respeitou as instruções? 

 ‘É proibido matar’ é o quarto livro da série do Inspetor Gamache. Ele e sua esposa foram passar alguns dias de descanso, num local que conhecem bem, Manoir Bellechasse, eles irão comemorar o aniversário de casamento que cai no mesmo dia em que é celebrado o "dia do Canadá". 

“Desejos. Ambições. E ódio. Depois de anos investigando assassinatos, o inspetor-chefe Gamache sabia uma coisa sobre o ódio: ele conectava para todo o sempre o indivíduo à pessoa odiada. Assassinatos não eram frutos do ódio – eram um ato de liberdade. Uma tentativa de finalmente livrar o indivíduo daquele fardo.”

Tudo começa com um convite
Em Three Pines um carteiro que tem a fama de não ser eficiente, mas que na realidade curte mesmo é ficar passeando pelo vilarejo, entrega uma carta-convite, que o deixa com medo, quem foi convidado? Pra que?

E tudo está muito bem naquele ambiente bucólico, os Gamache estão curtindo seus dias, até que chega uma família bem esquisita por lá, seria uma versão da família Adams, e com todo o respeito aos Adams, já que os Finney, são muito mais esquisitos, mais complicados e muito ricos. 

-A matriarca: uma senhora muito nariz em pé, que trata os filhos com severidade. Depois da morte do seu marido, pai dos filhos, ela se casou novamente, com um cara que era amigo do ex, o contator dele. 

-Filho 1 Thomas e sua esposa Sandra: ele o filho de sucesso, conquistou tudo e se casou com a Sandra.

-Filha 2 Marianna: a filha esquisita, mãe de Bean (sim, feijão, e não sabemos se a criança é menino ou menina, é o prazer da Marianna fazer a família passar por essa vergonha ao apresentar feijão).

-Filha 3 Julia: a bondosa que nunca errou, ao mesmo tempo a rebelde que fugiu de casa jovem e se casou com um ricaço, que agora estava preso.

Uma mãe e quatro filhos já adultos, eles se reúnem anualmente, e dessa vez tinha um motivo mais especial: a inauguração de uma estátua, e não era uma estátua qualquer, seria para homenagear o falecido pai. 

Mas pera, falei 4 filhos, então alguém está faltando né? Lembra do convite? Então, os rostinhos já conhecidos para os leitores da série do Gamache e moradores de Three Pines são:

-Filho 4 Peter e sua esposa Clara: ele é o irmão, e aí entendemos que Morrow é o sobrenome do primeiro marido. Peter seria o irmão orgulho e fracassado aos olhos dos outros, o artista.

Foi muito interessante saber mais sobre o Peter. E entender porque ele é do jeito que é. Em algumas passagens dos outros livros, a gente sempre fica questionando as atitudes do Peter e pensando até onde ele poderia ir, foi muito legal saber suas origens e conhecer sua família. 

No meio da investigação, a gente ainda tem a oportunidade de conhecer o passado do Gamache e a história do pai dele. Foi um dos pontos altos do livro na minha opinião. O pai dele, tem a fama de covarde no país, mas Gamache tem muito orgulho do pai, muitos personagens vão tentar usar essa má-fama do pai, contra o Gamache, o que deixa nós, leitores bem irritados, mas Gamache não se importa e vamos ir entendendo seus motivos ao longo do livro.

Dinheiro sempre foi uma questão para os Finney. O pai deles tentou não colocá-lo como o mais importante, mas acabou sendo severo ao tentar dar amor aos filhos. Um clima de competição sempre esteve presente, todos os filhos queriam atenção exclusiva do pai, nunca houve um clima saudável e de companheirismo entre os irmãos. Por outro lado, mentiras, golpes e fingimentos eram comuns, eles gostavam de tocar na ferida um do outro, sabiam como machucar.

Os personagens têm muitas nuances, a gente cria uma ideia de cada um e vem uma novidade sobre eles que muda tudo que a gente imaginava. 

“A paisagem não importa. O interior, sim. Seu corpo pode estar em lugares lindíssimos, mas, se seu espírito estiver esmagado, não importa. Ser excluído, ser evitado, não é algo sem importância.” 

Um cubo no jardim
E do nada aparece um objeto estranho que destoa da paisagem natural, um cubo esquisito, o que era aquilo, pra que era?

Quando eu li que o assassinato nesse livro seria de uma estátua caindo, eu imaginei uma gárgula caindo do alto de um prédio, mas eu estava errada, sabe o cubo? Então, é para a estátua ficar em cima, uma estátua muito pesada, que é impossível para uma pessoa sozinha empurrar, mas o fato é que, essa estátua caiu em cima de alguém, matando a pessoa (não vou dizer quem morre para não ser spoiler) e a pergunta que a gente vai fazer o livro inteiro é: Como? Além de claro, quem é o assassino?

Temos no hotel, a família, os Gamache e também os funcionários, muitos jovens fazem parte da equipe com trabalhos temporários, vou destacar alguns dos personagens que estão no staff:
- a dona do hotel: uma senhora bem acolhedora, que trata aquele local como um santuário

- a chef: uma chef excelente, mas que se esconde na cozinha, não gosta de ser cumprimentada

- o maitrê: super eficiente e não gosta que nada fique fora do seu controle

- o garçom: um jovem rebelde que desafia a todos

- a jardineira: ela cuida do jardim e é muito observadora

E tal como num jogo de tabuleiro, temos todas as peças nas suas posições e na investigação, Gamache conta com a ajuda do seu braço direito, o Jean Guy Beauvoir e da agente Isabelle Lacoste, personagens já conhecidos para os leitores da série.

“Houve um silêncio aturdido. Ele via aquela transição em quase todos os dias de sua vida profissional. Sempre se sentia como um barqueiro, levando pessoas de uma costa para a outra. Do terreno acidentado, embora familiar, do luto e do choque, para um submundo visitado por poucos. Para uma costa onde as pessoas matavam de propósito.”

Vingança, ganância, remorso, são motivos os possíveis motivos, muitos personagens podem ser culpados, será que foi um complô? 

Eu nunca iria imaginar o assassino, fiquei muito chocada e a sequência até a gente descobrir é eletrizante. E ver tudo explicado, como o assassino conseguiu realizar esse crime impossível foi surpreendente demais! 

Esse livro também trouxe muitas lições de vida e reflexões, são vários aprendizados que vamos tendo ao longo do desenvolvimento, sobre como nos comunicamos com quem amamos, a gente mostra de verdade que ama? Sobre escolher contar as coisas boas da vida ao invés de só reclamar do que deu errado. 

Foi uma viagem bem intensa para Manoir Bellechasse e por lá a única regra é: proibido matar. 


Confira as resenhas dos outros livros da série: 

Livro 1: Natureza Morta 

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